Autor Levi Aguiar
Com o intuito de reduzir o impacto dos efeitos danosos provocados pelos incêndios florestais e outros desastres ambientais no Ceará, o Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) oficializou o lançamento da operação Floresta Branca. A ação de cunho ambiental foi lançada na sede do Quartel Central, em Fortaleza, na última sexta-feira, 20.
"Iremos atuar de forma integrada, com outros órgãos de segurança e meio ambiente, além de outros parceiros. Nosso intuito é realizar uma articulação institucional, por meio da implementação de ações coordenadas e previamente estabelecidas”, ressalta o coronel Ronaldo Roque de Araújo.
A data para a deflagração da operação não é por acaso. Reunindo fatores como as altas temperaturas, o período de estiagem no Estado, a velocidade dos ventos e também as queimadas feitas culturalmente para preparação do solo para agricultura, são nos últimos meses do ano que historicamente se registram as maiores médias de focos ativos no Ceará, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Conforme a média histórica de monitoramento do Inpe, enquanto os registros nos meses de março, abril, maio e junho foram de respectivamente 11, 5, 11 e 14 focos; nos meses de agosto, outubro, novembro e dezembro esse números aumentam drasticamente, sendo registrados 315 em agosto, 1.068 em outubro, 1.859 em novembro e 1.558 em dezembro.
Quando contabilizados pelos anos, os focos ativos totais em 2018 foram de 3.034 casos, 4.304 casos em 2019, 3.979 em 2020 e 469 até agosto de 2021. O foco de calor ou focos ativos são os dados capturados pelos satélites de monitoramento e os sensores do satélite registram temperaturas acima de 47°C.
De acordo com Francisca Araújo, coordenadora do programa de pós-graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará, um dos impactos das queimadas é fazer com que a temperatura do solo chegue a mais de 150º C.
"A queimada limpa o terreno, mas deixa o solo exposto à erosão. Esse tipo de prática secular vem contribuindo para a perda de solo, fauna e microbioma do solo. Isso empobrece o terreno, é tanto que o homem desmata e usa a terra por mais duas ou três vezes e a produtividade do espaço cai muito”, ressalta.
A operação Floresta Branca está dividida em três programas integrados e complementares:
Prevenção: tem como objetivo agir na redução de riscos de incêndios florestais, mediante adoção de campanhas informativas e ações de limitação ou redução das fontes propagadoras de fogo.
Monitoramento: promove o acompanhamento dos focos de incêndio e queimadas através do site BDQueimadas/Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), bem como as condições climáticas que favoreçam o aumento do risco de fogo, para fornecer subsídios aos órgãos diversos.
Combate: conjunto de atividades destinadas a planejar, integrar e executar ações de combate a incêndios florestais, formar bombeiros no Curso de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, treinar brigadas municipais e das Unidades de Conservação.
O nome da operação faz referência aos povos indígenas originários e possui um significado histórico e cultural, que envolve o bioma Caatinga. Os nativos chamavam assim porque na estação seca, a maioria das plantas perdem as folhas, prevalecendo na paisagem a aparência clara e esbranquiçada dos troncos das árvores. Caa (mata) e tinga (branca) significa, pois, “mata ou floresta branca” no tupi.
Queimadas: uma questão cultural
A coordenadora explica que a partir do mês de dezembro nota-se o começo das chuvas no Estado, que podem durar até o mês de maio - dependendo da variação dos fenômenos El Niño e La Niña. A partir de maio, com o fim da quadra chuvosa, a caatinga começa a ficar seca. "Em agosto, com a caatinga bem mais seca, os agricultores começam as 'brocadas', que estariam relacionadas ao desmatamento e ao corte da vegetação, deixando a vegetação secando. E em setembro eles iniciam as queimadas".
As queimadas servem culturalmente para preparar o terreno para a plantação durante a estação chuvosa aqui no Ceará. Esse ato de limpeza do terreno é considerado uma questão cultural de séculos. A professora ressalta que as queimadas na Amazônia são usadas de maneiras diferentes daqui no Ceará: "Lá é usado só para desmatar a vegetação, para a retirada de madeira, pastagem, facilitar o acesso para grilagem de terra e exploração de minérios, aqui é para a agricultura".
"Usando a prática de queimadas, o responsável pelo terreno gasta de duas a três diárias com o capinador. Sem as queimadas, o agricultor pode gastar em torno de dez diárias com o capinador. Por outro lado, é muito caro para o meio ambiente. A queimada contribui para o aquecimento global e destrói a biodiversidade do solo”, conclui.
Respostas Operacionais
Por causa da intensidade das ocorrências relacionadas a incêndios florestais, foi admitida a necessidade de deflagrar a divisão da resposta operacional aos incêndios em vegetação em duas respostas:
- Disponibilidade de guarnição com ferramentas, materiais e viaturas, com o objetivo de efetuar o combate, realizar a evacuação de pessoas e animais e proteger patrimônios e vegetação.
- Equipe de militares, que estão de folga do serviço ordinário, contando com no mínimo 13 combatentes. A principal finalidade desta equipe extraordinária é combater as chamas até o total controle e extinção dos focos.