Autor Leonardo Maia
Os pacientes da segunda onda de Covid-19 no Ceará foram mais jovens e com maior porcentagem de mulheres, em relação à primeira onda da crise na saúde. Os dados registrados em 2021 também mostraram uma menor mortalidade hospitalar, assim como uma menor prevalência de múltiplas comorbidades, com exceção da obesidade.
As informações foram divulgadas nesta terça-feira, 7, em live da Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE), vinculada à Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Na primeira onda, a mediana de idade dos pacientes foi de 64 anos, enquanto no segundo período o número caiu para 56. Já em relação ao sexo, o número de homens atingidos caiu de 61,4% para 56,9% e a porcentagem do sexo feminino aumentou de 38,6% para 43,1%.
Outro dado compartilhado pelos cientistas refere-se aos sintomas detectados nos pacientes durante os dois períodos, identificados durante os anos de 2020 e 2021, respectivamente. A primeira onda da pandemia ficou marcada por mais pacientes com febre, sintomas respiratórios e perda de paladar e olfato, enquanto o segundo pico registrou mais pessoas infectadas com dor de cabeça (cefaleia) e dor de garganta. Os dados foram obtidos com base em um banco de dados com 6.044 pacientes de hospitais cearenses que atendem à doença.
Ana Paula Matos Porto, médica infectologista e integrante da pesquisa, indicou que os resultados alcançados refletem um melhor tratamento dos pacientes que chegam às unidades hospitalares, devido aos aprendizados obtidos durante a primeira onda. O estudo, conforme explica a especialista, surgiu em abril de 2020, com a preocupação da comunidade científica e das autoridades públicas com a consolidação do Ceará como hub aéreo para Europa e América do Norte.
Apesar dos avanços abrangentes do tratamento de pacientes, os cuidados com os infectados que precisam ser submetidos à Ventilação Mecânica Invasiva (VNI) precisam ser aperfeiçoados, segundo aponta José Xavier Neto, cientista-chefe da Saúde do Ceará e coordenador do Centro de Inteligência em Saúde do Estado do Ceará (Cisec). Isso acontece ainda que, de acordo com análises dos pesquisadores, a segunda onda tenha apresentado um menor número de pacientes que precisaram fazer uso do VNI, em relação ao primeiro pico de casos e mortes.
O médico Marcelo Alcântara, superintendente da ESP/CE, ressaltou a importância que a pesquisa científica tem apresentado para a condução da pandemia no Estado, impedindo que as decisões sejam tomadas com base em impressões empíricas. “Uma atitude importante no início da pandemia foi a destinação de uma sala para a pesquisa no Hospital Leonardo Da Vinci (principal unidade que trata pacientes com Covid-19 no Estado). Isso foi realizado mesmo que estivéssemos lidando com uma operação de guerra”, apontou durante o evento.
Batizada de ResCovid, a pesquisa conduzida pelos pesquisadores cearenses percorreu seis unidades públicas de saúde estaduais ao longo dos últimos meses e coletou dados referentes às internações provocadas pelo coronavírus — desde o início dos sintomas até o fim do acompanhamento médico. O objetivo do estudo, que deve continuar sendo realizado durante a pandemia, é identificar os fatores demográficos e socioeconômicos que impactaram nos desfechos de melhora clínica com alta hospitalar ou óbito dos pacientes.
opovo.com.br
08.12.2021