Autor Danrley Pascoal
Há cerca de seis meses, no Natal, o telescópio James Webb foi lançado da Guiana Francesa ao espaço, por um foguete modelo Ariane 5. Fruto de uma colaboração internacional e em projeto desde a década de 1990, o equipamento está a 1,5 milhão de quilômetros de distância da Terra. Nos últimos dias, a Nasa divulgou as primeiras fotografias tiradas pelo Webb. Para explicar o impacto das descobertas dessa joia da engenharia O POVO conversou com o físico cearense Luidhy Santana.
As imagens divulgadas nesta segunda-feira, 11, marcam o início das operações científicas James Webb, aguardadas há anos por astrônomos do mundo inteiro. Luidhy fala das vantagens que o telescópio espacial trará para a astronomia. Diferente dos telescópios usados da Terra, o Webb não encontrará problemas com a turbulência da atmosfera, nem da luz vinda dos objetos. O equipamento tem combustível suficiente para operar por 20 anos. Cerca de 20.000 pessoas trabalharam neste projeto no mundo todo.
“A grande vantagem de você tentar lançar no espaço é que você não vai ter interferência da atmosfera terrestre. Você vai ter a imagem, digamos assim, a mais limpa possível. A grande importância de ter esses telescópios no espaço é principalmente para contornar o problema da turbulência da atmosfera. E o Webb está observando em um comprimento de onda que permite que a gente observe as galáxias mais distantes ainda”, destaca.
Exploração do universo muito jovem
Uma das principais missões do James Webb, uma joia da engenharia no valor de US$ 10 bilhões e o telescópio espacial mais potente já projetado, é a exploração do universo mais jovem. Esta primeira apresentação pretendia dar uma visão geral das suas capacidades nesta área. Repleta de detalhes, as fotos divulgadas pela Nasa mostram galáxias formadas logo após o Big Bang, há mais de 13 bilhões de anos.
“Nas imagens que foram divulgadas, a do aglomerado que fica a galáxia gigante, têm muitas galáxias no meio do caminho, que estão próximas da gente, mas algumas delas estão há alguns milhões de anos, ainda quando o universo começou. Eles divulgaram imagens com aspectos de uma galáxia 13,1 bilhões de anos. O James vai conseguir observar isso”, explica o físico cearense.
O grande diferencial do Webb são os espelhos que captam ondas infravermelhas, de acordo com Luidhy, o espelho do telescópio tem cerca de 6 metros. Sendo o triplo do Hubble, lançado em abril de 1990, e que foi responsável pela captação de imagens extremamente importantes para estudos relativos ao universo.
“Se você, por exemplo, apontasse o Hubble e o James Webb no mesmo objeto, o James Webb ia conseguir observar a mesma quantidade de luz em uma fração de tempo menor do que o Hubble. O James Webb vai conseguir observar a mesma fração de luz numa escala de tempo menor”, explica.
O físico cearense comentou sobre as possibilidades de avanço na astronomia e na ciência de forma geral com as novas descobertas que o James Webb deve trazer. Segundo Luidhy, ainda é cedo para projetar avanços, mas um exemplo prático de como a astronomia impacta nas nossas vidas tem a ver com a câmera dos celulares, as quais não surgiram já para serem postas nos aparelhos. Mas, para telescópios que precisam desses dispositivos em tamanho menor acoplados em suas estruturas, os chamados CCD.
“E nessa evolução de 20, 30 anos que temos de CCD, a gente conseguiu colocar uma câmera de telefone celular. Agora, especificamente sobre o James Webb, ele vai lançar mão de perguntar a nossa própria origem, porque a gente vai está olhando em uma parte do universo que nunca foi observada. Vamos observar as primeiras galáxias após a vida. Quanto a isso, se tem muitas perguntas, principalmente da nossa própria existência. O Webb não vai responder diretamente essas questões, mas ele vai abrir espaço para gente conseguir questionar isso”, conclui.
Colaborou Lara Vieira/Especial para O POVO
opovo.com.br
13.07.2022