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Perda de vegetação aumenta o risco de surto de zoonoses, aponta estudo

Perda de vegetação aumenta o risco de surto de zoonoses, aponta estudo

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Foto: (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A pesquisa mostra que apenas 30% dos estados brasileiros, ou seja, oito estados, têm baixo risco de surtos de zoonoses

Yanne Vieira

Dois terços dos estados brasileiros têm risco médio e alto para desencadear um surto de zoonoses. Esta relação se dá, principalmente, em populações humanas vulneráveis e que estejam localizadas em áreas mais remotas e próximas à vida selvagem. As informações são de um estudo publicado no último dia 29, na revista Science Advances

Liderado por pesquisadores do Projeto Redes DTN, do Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose/CNpq), sediado na Fiocruz do Rio de Janeiro, o estudo aponta que o aumento recente na vulnerabilidade ambiental e social do país pode acelerar a emergência de um próximo surto decorrente de zoonoses.

O tema ganhou visibilidade com a ascensão da SARS-CoV-2, covid-19, e acendeu o debate sobre a preservação da biodiversidade como abordagem da saúde global, incluindo os animais, sobretudo os selvagens, como reservatórios zoonóticos.

A pesquisa analisou a incidência de casos e mortes decorrentes de zoonoses, ocorrência de mamíferos e seus patógenos e parasitas, caça, perda de vegetação natural e cobertura verde urbana.

Nos países em desenvolvimento, a ocupação de áreas ambientalmente degradadas, associada à vulnerabilidade social da população, favorecem a rápida disseminação geográfica de infecções. Os autores apontam que à medida que a ocupação humana vai avançando para as áreas naturais, o contato com animais selvagens se intensifica, criando condições para a emergência de doenças zoonóticas. Um exemplo é a incidência de malária e leishmaniose que está diretamente relacionada ao desmatamento.

De acordo com os autores, o aumento das vulnerabilidades ambientais e sociais no Brasil, somados a crises econômicas e políticas, são potenciais gatilhos para surtos. Os dados do Observatório do Clima mostram que, em 2020, o desmatamento elevou em 20% a emissão de gases poluentes somente na Amazônia Legal em comparação com o ano anterior.

A pesquisa constatou que há uma forte correlação entre perda de vegetação, riqueza de mamíferos, isolamento do município, pouca vegetação urbana e baixa cobertura vegetal. “O curioso é que a maioria das cidades que estão cercadas de mata nativa, têm pouca ou quase nenhuma vegetação urbana”, explica Gisele Winck, autora do estudo e pesquisadora de pós-doutorado do SinBiose. A aplicação do modelo mostrou que apenas 30% dos estados brasileiros, ou seja, oito estados, têm baixo risco de surtos de zoonoses.

O Maranhão, que tem 34% do seu território coberto por floresta, é considerado de alto risco. Entretanto, o estado vizinho, Ceará, que possui o bioma prevalente da Caatinga, tem baixo risco. Os outros sete estados de baixo risco são Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Sergipe, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul.

Uma característica compartilhada entre os estados citados é a alta conectividade entre elas, que favorece  a distribuição do sistema de saúde e, portanto, o tratamento de acometidos por zoonoses. “Se a pessoa não consegue tratamento em um município, ela consegue acessar outro município rapidamente. Isto tem a ver com a capacidade de resposta à crises”, explica Winck.

Todos os estados amazônicos são considerados de médio a alto grau de risco de surto zoonótico. “A questão é que atualmente há uma sobreposição das nossas áreas com maior cobertura vegetal e biodiversidade com as áreas de maior desmatamento. Isto as torna potencialmente um risco para a emergência de surtos de zoonoses”, avalia a pesquisadora.

No artigo, a caça também é citada como um aspecto relevante, sendo considerada ilegal no país, exceto como atividade de subsistência para comunidades tradicionais e indígenas, ainda assim, não é incomum encontrar a comercialização de carne de caça em todas as regiões do país. A manipulação de carne de caça preocupa os pesquisadores, em termos de manejo das espécies, mas, principalmente em termos de saúde coletiva.

Estimativas recentes apontam que o mercado de carne de caça na Amazônia Central seja de aproximadamente 35 milhões de dólares por ano e a carne de mamíferos é a mais consumida, seguida pela de répteis e aves. “É preciso discutir este tema ao invés de ignorá-lo. Talvez a regulamentação incluindo monitoramento sejam saídas para a redução dos riscos eminentes”, considera a autora.

Os autores apontam que existem saídas. “O desafio atual é a colaboração intersetorial para uma gestão eficaz focada no conceito de Saúde Única (One Health), sobretudo em países mega diversos com alta vulnerabilidade social e crescente degradação ambiental, como o Brasil”.

miseria.com.br

06.07.2022