Autor Lara Vieira
Na época que antecede o período chuvoso no Ceará, os casos de atendimentos médicos pela doença popularmente conhecida como “virose da mosca” tendem a subir. O nome da enfermidade é dado às doenças diarreicas agudas (DDAs), grupo de enfermidades causadoras de gastroenterites, inflamações no estômago e no intestino. Podendo evoluir para casos mais graves, a doença pode ser evitada com atos de higiene.
Somente nas primeiras duas semanas de 2024, foram contabilizados 2.712 atendimentos de gastroenterite nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) geridas pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Já em Fortaleza, do dia 1° a 16 de janeiro, foram atendidos 1.431 pacientes nos postos de saúde e 2.352 em UPAS municipais com sintomas da Doença Diarreica Aguda (DDA) ou Gastroenterite Aguda. Compilando os dados, no Ceará cerca de 6.495 casos já foram registrados em menos de um mês.
Um dos dos casos registrados no início deste ano foi o de Pedro Oliveira, de 33 anos. Ele conta que começou a sentir os primeiros sintomas em um sábado de manhã. “Estava limpando a casa, quando senti uma pontada muito forte no estômago. A princípio achei que não fosse nada demais, porém a dor ia aumentando. Logo em seguida corri para o banheiro e vi que estava com diarreia”, relata o analista de tecnologia da informação.
Pedro relata ter pensado não se tratar de algo sério. As dores, porém, se estenderam por todo o dia. Ele então recorreu a uma unidade de saúde, no final da noite. “Comecei a sentir dores no corpo todo, até na cabeça, se somando com a diarreia. Ao chegar lá, o médico fez alguns questionamentos, onde ele detectou que realmente seria essa virose”, relata.
"Lá mesmo tomei medicação na veia e soro, para reidratar. O médico ainda contou que, ultimamente, diversos pacientes vinham relatando os mesmos sintomas”, detalha. Já em casa, Pedro seguiu o tratamento indicado, com medicamentos para restabelecer a flora intestinal, antidiarreico e reidratação.
Apesar de poderem acontecer em qualquer período do ano, as gastroenterites ocorrem principalmente em épocas de poucas chuvas. É o que explica o biomédico e professor universitário André Alog, especialista em patologias infectocontagiosas. "Neste período de poucas chuvas e calor intenso, a proliferação desses insetos, que são os principais vetores dessas doenças, ocorre com mais intensidade”, pontua. A quadra chuvosa no Ceará começa em fevereiro, se intensificando em março e abril.
Segundo o especialista, contudo, os insetos são apenas uma das formas de transmissão da doença, também podendo ser chegar ao ser humano por intermédio de outras formas. “Popularmente nós chamamos esse conjunto de gastroenterites de ‘virose’, mas essas doenças podem ser causadas por diferentes agentes, como vírus, bactérias, fungos e protozoários. Assim, o contato da própria mão contaminada também pode causar essas enfermidades”, explica André.
O professor ainda comenta que consumir água contaminada e alimentos não higienizados também são possíveis causas para as inflamações no estômago. Atualmente, entre os principais agentes causadores das doenças diarreicas agudas (DDAs) estão o Rotavírus (vírus), Norovírus (vírus), a Salmonella (bactéria), a Shigella (bactéria), Escherichia coli (bactéria) e a Giárdia (protozoário parasita).
Entre os principais sintomas das doenças diarreicas agudas (DDAs), estão:
- Diarreia grave
- Febre acima de 39 graus
- Vômito
- Dores musculares
- Falta de apetite
- Em casos graves, diarreia com muco
Fonte: Érica Guerreiro e André Alog
Em geral, os sintomas da virose da mosca duram de dois a cinco dias, com o auxílio de tratamento médico. Contudo, em casos mais graves, a doença pode progredir por até 14 dias.
"Na maioria dos casos, o paciente recebe o protocolo de hidratação e repouso em casa. Além disso, ele é orientado a cuidar na alimentação, pois, devido aos episódios de diarreia, a microbiota intestinal fica muito irritada, o que sensibiliza ainda mais o paciente. Portanto, é interessante evitar alimentos muito gordurosos e frituras, ingerindo muita água", detalha André.
Contudo, em casos mais graves, quando um paciente estiver em estado de desidratação ou apresentar muco com sangue nas fezes, a internação médica pode ser necessária. Na unidade de saúde, os profissionais irão tratar o paciente de acordo com a singularidade de cada vetor de transmissão da doença, podendo ser administrada hidratação intravenosa ou algum antibiótico específico.
A “virose da mosca” ainda pode ocorrer de forma recorrente.
“Caso o paciente esteja doente há uma semana, mas continue sem se cuidar, ele pode ter uma nova infecção. Além disso, também é importante mudar de hábitos, analisando o que causou a doença, em primeiro lugar”, diz o biomédico especialista em patologias infectocontagiosas.
Prevenção
De acordo com o biomédico André Alog, a prevenção contra a “Virose da Mosca” consiste em simples hábitos de higiene, como:
- Lavar bem as mãos com sabão antes de comer qualquer alimento ou ao preparar qualquer refeição;
- É importante lavar as mãos após utilizar banheiros públicos ou pessoais, após utilizar transporte público ou entrar em contato com animais;
- Beber água filtrada;
- Lavar bem frutas e verduras;
- Ter cuidado ao consumir alimentos fora de casa, verificando a segurança dos alimentos;
- Manter os ambientes limpos e livres de insetos, como baratas e moscas;
- Não consumir alimentos crus ou mal cozidos.
Fonte: Érica Guerreiro e André Alog
Quando procurar uma unidade de saúde?
A gastroenterite aguda deve ser devidamente tratada com a orientação médica logo nos primeiros sintomas. É o que indica Érica Guerreiro, coordenadora do serviço assistencial na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza.
"Todo início de ano, percebemos um aumento desses casos. Em casos leves, os pacientes podem se dirigir aos postos de saúde. Já em casos graves, é aconselhado se encaminhar direto a uma UPA”, explica a profissional.
Nos equipamentos, os pacientes são atendidos conforme classificação de gravidade. “Qualquer faixa etária deve ser atendida, mas temos que ter uma atenção redobrada nas crianças e nos idosos, que já tem uma fragilidade maior na saúde e às vezes não se hidratam bem”, conclui Erica Guerreiro.
opovo.com.br
Cariri Ativo
05.02.2024