Autor Lara Vieira
Cerca de 85% das mulheres negras que sofreram violência doméstica e não têm renda suficiente ainda vivem com seus agressores. A estimativa é fruto de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa DataSenado e da Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, publicada nesta quarta-feira, 20, Dia da Consciência Negra.
Esse número é quatro vezes maior do que a média de mulheres negras que relatam já ter sofrido algum tipo de agressão (21%), independentemente da renda.
Entre as mulheres negras que afirmaram não conseguir se sustentar, uma em cada três (32%) já sofreu algum tipo de agressão, e 24% vivenciaram esse episódio nos últimos 12 meses.
Contudo, quando os pesquisadores questionaram sobre situações específicas de violência, o número de mulheres negras que sofreram agressões no último ano sobiu para 31%. Isso indica que 7% das entrevistadas não reconheceram, inicialmente, o que viveram como um episódio de abuso doméstico.
Entre as mulheres negras que relataram sofrer violência familiar, 27% não têm renda e 39% não têm renda suficiente para se sustentar e sustentar seus dependentes, totalizando 66% de vítimas sem condições financeiras.
“A convivência com o agressor é uma realidade alarmante para muitas mulheres negras em situação de violência, agravada pela vulnerabilidade econômica que impede a ruptura do ciclo de abuso. Essa situação se torna ainda mais delicada para aquelas que são mães de filhos menores de 18 anos”, afirma Milene Tomoike, analista do Observatório da Mulher Contra a Violência.
Índice de violência reflete a realidade socioeconômica das mulheres negras
A população brasileira de mulheres negras com 16 anos ou mais é de 45 milhões, segundo o IBGE. Desses, 6% são analfabetas, 25% não completaram o Ensino Fundamental, 7% têm Ensino Fundamental completo, 9% têm Ensino Médio incompleto, 34% concluíram o Ensino Médio, 5% têm Ensino Superior incompleto e 14% completaram o Ensino Superior.
A falta de educação formal impacta a renda das mulheres negras: 66% vivem com até dois salários mínimos, apesar de 50% estarem no mercado de trabalho.
Além disso, 66% afirmam não ter renda suficiente para se sustentar ou sustentar suas famílias. Apenas 33% conseguem se manter, enquanto entre as mulheres brancas, esse percentual é de 42%.
Esta é a maior pesquisa de opinião sobre o tema no Brasil. Realizada entre 21 de agosto e 25 de setembro de 2023, a pesquisa entrevistou, por telefone, 13.977 brasileiras negras de 16 anos ou mais. As entrevistas abrangeram todos os estados do país.
“Essa vulnerabilidade financeira não apenas limita sua autonomia, mas também as mantém reféns a relacionamentos abusivos, onde a dependência econômica se torna mais uma ferramenta de controle e violência”, comenta Elga Lopes, Diretora da Secretaria de Transparência e do Instituto DataSenado.
Mulheres negras são principais vítimas de violência no Ceará
Entre janeiro e julho deste ano, a Central de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Ligue 180) recebeu 84,3 mil denúncias no Brasil, um aumento de 33,5% em relação ao mesmo período de 2023. No Ceará, o crescimento foi de 34,13%, com 2.197 denúncias.
As mulheres negras ou pardas são as principais vítimas no Ceará, com 1.207 registros no Ligue 180. Os principais agressores são os companheiros ou ex-companheiros, com 738 denúncias.
A casa da vítima continua sendo o principal local das agressões, com 1.012 denúncias em todo o Brasil. A faixa etária mais afetada é de mulheres entre 35 e 39 anos, com 476 ocorrências.
opovo.com.br
Cariri Ativo
21.11.2024