Especialistas apontam que ativo digital poderia ser fraude
A criptomoeda $LIBRA teve o valor disparado e depois foi derrubada, entre acusações de fraude e pedidos de “impeachment” do mandatário.
Milei publicou no X uma mensagem, fixada em seu perfil por mais de cinco horas, com um link para o projeto chamado “Viva La Libertad Project”.
“O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”, dizia sua postagem com o nome do token, uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain sem valor em moeda real.
O anúncio do presidente afirmava que a criptomoeda era um projeto privado dedicado a incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos.
Economistas e especialistas no universo cripto da Argentina, bem como vários políticos da oposição, rapidamente criticaram Milei e apontaram que esse ativo digital poderia ser uma fraude.
Horas depois o presidente excluiu a publicação. “Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois que tomei conhecimento, decidi não continuar difundindo-o”, afirmou Milei.
Com o aumento das críticas, a presidência argentina informou ainda na noite de sábado que, diante dos fatos, Milei “decidiu intervir de forma imediata com o Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente”.
O governo argentino também instaurou uma Unidade de Força-Tarefa de Investigação sob o gabinete do presidente encarregada de iniciar uma investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas ou indivíduos envolvidos na operação.
Manobra financeira
De acordo com especialistas em finanças digitais, como a revista de mercados de capitais The Kobeissi Letter, cerca de 80% do ativo $LIBRA estava nas mãos de poucas pessoas antes do apoio de Milei.
Depois da publicação do presidente, seu valor cresceu exponencialmente, de décimos a um pico de US$ 4.978 (R$ 28.512 na cotação atual); os detentores originais começaram a vender com lucro de milhões, mas o valor do ativo despencou em seguida.
A manobra é conhecida no trading digital como uma “puxada de tapete”, segundo Javier Smaldone, especialista em informática e influenciador digital conhecido por denunciar esquemas de pirâmide.
“Uma criptomoeda é criada, o que também pode ser feito com ações, recebe uma liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e, em seguida, uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada, atraindo pessoas”, explicou Smaldone sobre o papel que a promoção de Milei poderia ter desempenhado.
O especialista acrescentou que à medida que “as pessoas começam a comprar, o valor do ativo aumenta (...) até que, em algum momento, aqueles que administram a liquidez retiram o dinheiro e a coisa desanda”.
Pedido de impeachment
Políticos argentinos da oposição denunciaram o ocorrido. O senador da UCR (centro) Martín Lousteau declarou em sua conta no X que “esta é a segunda vez que, como funcionário, (Milei) anuncia ativos do mundo das criptomoedas que acabam sendo uma fraude”.
Também no sábado, o bloco União pela Pátria, liderado por peronistas na Câmara dos Deputados do Congresso Nacional, anunciou que na segunda-feira apresentará um pedido de Impeachment contra o Presidente da Nação.
Em 2021, o então deputado Milei promoveu a plataforma CoinX, que oferecia lucros de 8% ao mês em dólares e agora também está sendo investigada por suposta fraude.
Já o deputado da Coalizão Cívica Maximiliano Ferraro afirmou que o que aconteceu com a $LIBRA “foi uma manobra especulativa que poderia ser alavancada no poder político do Presidente e no uso de informações privilegiadas”.
O Congresso “deveria criar uma comissão especial de investigação” para “esclarecer os fatos e determinar as responsabilidades”, considerou.
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Cariri Ativo
17.02.2025