Autor Gabriela Monteiro
Uma falha no avião da Voepass que matou 62 pessoas em São Paulo em agosto do ano passado foi omitida pela empresa antes do voo acontecer. A informação foi confirmada por um ex-funcionário ao portal G1, quase um ano depois do acidente.
Ele trabalhava na área de manutenção da Voepass e estava no hangar — galpão onde as aeronaves são estacionadas para manutenção antes do próximo voo — na madrugada do dia em que o acidente aconteceu.
Seu relato dizia que o último piloto que conduziu a aeronave naquela noite informou que o avião estava com problemas no sistema de degelo.
“Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha, né? Só que no dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe ela, reportou para o mecânico que foi buscar a aeronave no pátio. Ele acionava e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer”, disse.
Ao invés de registrar a falha no diário de bordo técnico, o piloto informou apenas verbalmente. Por isso, a manutenção foi ignorada pela equipe do hangar na madrugada daquele dia.
“O próprio líder questionou, falou: 'bom, se ele não reportou em livro, não tem pane na aeronave', que esse era o legado da empresa. Se o comandante reporta, tem ação de manutenção. Se não reportou, eles não vão perder tempo com nada que ele falar, entendeu?", declarou.
Sistema é obrigatório para segurança do voo
O sistema de degelo funciona como uma bolsa que enche e esvazia durante o voo, quebrando as camadas de gelo que se formam na parte da frente da asa.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, o bom funcionamento do equipamento é obrigatório e necessário para que o voo siga em segurança em casos de formação de gelo.
Conforme relatou o ex-funcionário, o voo em que o problema com o degelo apareceu foi entre os Guarulhos e Ribeirão Preto. Entre uma atividade e outra, a aeronave ficou parada por quatro horas e meia antes de voar novamente.
“É um período muito curto pra ser feito manutenção na aeronave. Que era a própria diretoria que exigia isso, que queria o avião voando. Então, assim, eles nem pesquisaram”.
De Ribeirão Preto, o avião volta para Guarulhos, e de lá seguiu para Cascavel, no Paraná. O voo partiu de Cascavel às 11h56min e, pouco tempo antes do pouso, caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo. Os 58 passageiros e os 4 tripulantes morreram.
Em meio as investigações do acidente, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), emitiu relatório preliminar que aponta que as caixas-pretas do avião captaram uma conversa entre os pilotos que citaram a falha no sistema de degelo do avião.
A perícia apontou ainda que houveram três tentativas de ativação do degelo.
opovo.com.br
Cariri Ativo
04.08.2025