Embora o tabagismo seja a principal causa de câncer de pulmão, duas entre dez pessoas que desenvolvem a doença nunca consumiram cigarro. Entre as causas para tumores pulmonares em não fumantes estão a exposição ao gás radônio, fumo passivo, poluição do ar, exposição ocupacional (amianto, fumaça de diesel e outros produtos químicos), fatores genéticos, doenças pulmonares prévias e cigarro eletrônico. Na somatória dos nove estados do Nordeste a projeção é que entre 1.314 e 1642 pessoas, que nunca fumaram, recebam o diagnóstico de câncer de pulmão este ano.
O câncer de pulmão é a principal causa de morte por tumores malignos, tendo o fumo do tabaco como o agente cancerígeno mais determinante. Por sua vez, alerta o Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT), estudos epidemiológicos sugerem que 20% a 25% dos casos de câncer de pulmão podem não ser atribuíveis ao tabagismo. Na somatória da incidência dos nove estados da região Nordeste, deverão ser registrados 6.570 novos casos de câncer de pulmão em 2025 e, a partir deste dado oficial do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a projeção é que entre 1.314 e 1.642 nordestinos que nunca fumaram recebam este ano o diagnóstico de um tumor maligno no pulmão.
A maior prevalência de câncer pulmonar na região é registrada no Ceará, com 13,65 casos para cada mil cearenses. A mais baixa é observada na Bahia, com 7,87 casos para cada 100 mil. Em relação à incidência, o maior número também é registrado no Ceará, com 1.400 casos e o estado da Bahia, por ser populoso, aparece em segundo, com 1.360, apesar da menor prevalência. Os menores números de casos estão em Alagoas (290) e Sergipe (240), cujas prevalências, respectivamente, são de 8,66 e 10,51, respectivamente.
“Os dados epidemiológicos são importantes para se observar a ocorrência de doenças nas diferentes áreas do país e, desta forma, nortear as políticas de saúde. Vemos, por exemplo, o quanto a alta prevalência no Ceará requer atenção das autoridades, assim como o elevado número absoluto de casos no estado da Bahia também é preocupante”, ressalta a oncologista clínica Samira Mascarenhas, diretora executiva do GBOT e titular na Oncologia D'Or na regional Bahia.
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Alagoas | 290 | 8,66 | 58 a 70 |
Bahia | 1.360 | 7,87 | 272 a 340 |
Ceará | 1.400 | 13,65 | 280 a 350 |
Maranhão | 560 | 8,10 | 112 a 114 |
Paraíba | 520 | 9,88 | 104 a 130 |
Pernambuco | 1.320 | 12,05 | 264 a 330 |
Piauí | 380 | 10,47 | 76 a 95 |
Rio Grande do Norte | 500 | 12,14 | 100 a 125 |
Sergipe | 240 | 10,51 | 50 a 60 |
TOTAL | 6.570 |
| 1.314 a 1642 |
Em todo o mundo, segundo o Observatório Global de Câncer da Agência Internacional par Pesquisa do Câncer (IARC) são registrados mais de 2,4 milhões de casos de câncer de pulmão e a doença responde por 1,8 milhão de mortes anuais. (1). Ao menos 360 mil destas mortes por câncer de pulmão são de pessoas que nunca fumaram.
No Brasil, os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que 32 mil pessoas devem receber o diagnóstico de câncer de pulmão em 2025. Considerando a estimativa de ao menos dois entre dez casos serem em não tabagistas, a expectativa é que ao menos 6 mil brasileiros, que nunca fumaram, sejam diagnosticados com a doença este ano. (2).
O câncer de pulmão em quem nunca fumou (lung cancer in never smokers/LCINS) é o sétimo contribuinte para morte por câncer. São diversas as etiologias (causas) para o câncer de pulmão em não tabagistas. Pensando nisso, em alusão ao Agosto Branco de 2025, o GBOT busca aumenta a conscientização sobre os fatores de risco do câncer de pulmão em não fumantes.
Estudo publicado na revista The Lancet Respiratory Medicine em fevereiro de 2025 por pesquisadores da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), da OMS, aponta que 195 mil casos anuais de câncer de pulmão no Mundo são atribuíveis especificamente à poluição do ar por material particulado (MP), com evidência de crescimento principalmente de adenocarcinomas entre as gerações mais jovens, especialmente as mulheres.
De acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, cerca de 10% a 20% dos cânceres de pulmão são diagnosticados ao ano no país em pessoas que nunca fumaram ou fumaram menos de 100 cigarros durante a vida. Cerca de 60% a 80% desses cânceres de pulmão encontrados em pessoas que nunca fumaram são adenocarcinomas, o tipo mais comum também em fumantes. Os demais casos de câncer de pulmão em não fumantes são carcinomas de células escamosas (10% a 20%), carcinoma de pequenas células (2%) e o restante de diferentes tipos raros.
Perfil genético reforça influência da poluição
No trabalho publicado na Nature, os pesquisadores analisaram o genoma de tumores em 871 indivíduos nunca fumantes com câncer de pulmão, de 28 regiões geográficas distintas. Os autores observaram que a poluição do ar, especialmente partículas finas PM₂.₅, está fortemente ligada a mutações no gene TP53, associadas à supressão tumoral e controle da integridade do genoma da célula, e ao encurtamento dos telômeros, responsáveis por proteger as extremidades dos cromossomos e cuja perda é um indicador de envelhecimento celular. “Em outras palavras, a poluição interfere na capacidade das células de reparar danos que podem levar ao desenvolvimento do câncer de pulmão”, explica Vladmir Lima.
Outro trabalho, publicado em 2024 no Brazilian Journal of Health Review conclui que há uma íntima relação entre a poluição atmosférica e o câncer de pulmão. O presidente do GBOT acrescenta que a exposição continuada à poluição do ar, incluindo emissões de veículos, processos industriais e usinas de energia, é um fator de risco conhecido para o câncer de pulmão. “Apoiar políticas que visam reduzir a poluição do ar e promover energia limpa são medidas que podem mitigar esse risco”, complementa Vladmir Lima.
O GBOT listou os principais fatores de risco para câncer em não fumantes.
1 - Exposição ao Gás Radônio: O radônio é um gás radioativo natural que pode infiltrar-se em casas através de rachaduras na fundação. A exposição prolongada a altos níveis de radônio pode aumentar significativamente o risco de câncer de pulmão. Testar e mitigar os níveis de radônio nas casas pode reduzir esse risco.
2 - Fumo Passivo: Não fumantes que são regularmente expostos ao fumo passivo têm um risco maior de desenvolver câncer de pulmão. Isso inclui viver com fumantes ou frequentar ambientes onde o fumo é comum. Defender ambientes livres de fumaça pode ajudar a proteger contra esse risco.
3 - Poluição do Ar: A exposição prolongada à poluição do ar, incluindo emissões de veículos, processos industriais e usinas de energia, é um fator de risco conhecido para o câncer de pulmão. Apoiar políticas que visam reduzir a poluição do ar e promover energia limpa pode mitigar esse risco.
4 - Exposição Ocupacional: Certas ocupações expõem os trabalhadores a carcinógenos como amianto, fumaça de diesel e alguns produtos químicos usados na fabricação. Garantir medidas de segurança adequadas e equipamentos de proteção nos locais de trabalho pode reduzir a incidência de câncer de pulmão entre não fumantes.
5 - Fatores Genéticos: Um histórico familiar de câncer de pulmão pode aumentar o risco de uma pessoa, mesmo que ela não fume. Incentivar as pessoas a discutirem seu histórico médico familiar com seus médicos pode levar a estratégias de rastreamento e detecção precoce mais personalizadas.
6 - Doenças Pulmonares Prévias: Condições como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou fibrose pulmonar podem aumentar o risco de câncer de pulmão. O diagnóstico e manejo precoces dessas condições são essenciais para reduzir esse risco.
7 - Uso de Cigarros Eletrônicos (Vape): Embora os cigarros eletrônicos (vapes) frequentemente sejam vistos como uma alternativa mais segura ao fumo tradicional, o uso desses dispositivos ainda apresenta riscos, mesmo sem a presença de nicotina. Os líquidos de vape contêm várias substâncias químicas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões. Estudos preliminares sugerem que alguns destes produtos químicos podem ser prejudiciais e potencialmente aumentar o risco de câncer de pulmão e outras doenças pulmonares. Promover a conscientização sobre os riscos associados ao uso de vapes, mesmo sem nicotina, é crucial.
SINTOMAS - Os sintomas do câncer de pulmão variam de pessoa para pessoa. Muitas vezes, os sintomas são facilmente confundidos com doenças respiratórias comuns, como bronquite ou pneumonia, atrasando um diagnóstico preciso. Os sintomas mais comuns do câncer de pulmão incluem:
- Tosse que não desaparece e piora com o tempo
- Dor no peito constante e muitas vezes agravada pela respiração profunda, tosse ou riso
- Dor no braço ou ombro
- Tosse com sangue ou catarro cor de ferrugem
- Falta de ar
- Chiado
- Rouquidão
- Infecções como pneumonia ou bronquite que não desaparecem ou voltam com frequência
- Inchaço do pescoço e rosto
- Perda de apetite e/ou perda de peso
- Sentir-se fraco ou cansado
- Alargamento das pontas dos dedos e leito ungueal também conhecido como “baqueteamento digital”
Se o câncer de pulmão se espalhar para outras partes do corpo, pode causar:
- Dor no osso
- Fraqueza no Braço ou dormência na perna
- Dor de cabeça, tontura ou convulsão
- Problemas de equilíbrio ou uma marcha instável
- Icterícia (coloração amarela) da pele e dos olhos
- Gânglios linfáticos inchados no pescoço ou ombro
SOBRE O GBOT - O Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica foi idealizado por médicos oncologistas, clínicos e cirurgiões, com reconhecida expertise nessa área de atuação. Sua missão é produzir conhecimento científico na área da pesquisa clínica oncológica. Ao mesmo tempo, estimular os processos de educação na área do câncer e a geração de informações epidemiológicas que auxiliem na compreensão da realidade brasileira nesta área, possibilitando o desenvolvimento de estratégias que resultem numa melhoria dos resultados para a sociedade como um todo. Informações: https://www.gbot.med.br/.
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Moura Leite Netto
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20.08.2025