A entidade Autistas Brasil repudiou as declarações, destacando que coletiva é um projeto político contra pessoas autistas.
"Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom", declarou Trump. A Food and Drug Administration (FDA, agência reguladora de medicamentos, similar à Anvisa), notificará médicos de que o uso de paracetamol durante a gravidez “pode estar associado” a um risco maior de autismo em crianças.
Ele estava acompanhado pelo secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., e outros membros do governo.
Medicamentos recomendados para grávidas
As mulheres grávidas serão recomendadas pelo governo dos Estados Unidos a evitar o medicamento. O uso deve ser restrito a apenas ocorrências "estritamente necessárias".
No mundo, o paracetamol é considerado um medicamento seguro na gravidez. Esse grupo deve evitar usar anti-inflamatórios não esteroidais, como o ibuprofeno.
Terapia para sintomas de autismo
Em coletiva, Donald Trump ainda defendeu o uso da leucovorina como possível terapia para sintomas de autismo. Esse remédio é um tipo de ácido fólico, utilizado em alguns tratamentos contra o câncer.
No entanto, diversas pesquisas científicas já evidenciaram que o autismo tem uma base principalmente genética. Ou seja, são genes que podem ser herdados, mesmo que os pais não apresentem sinais.
Especialistas rebatem suspeitas levantadas por Trump
Durante o pronunciamento, Trump também levantou suspeitas sem comprovação sobre vacinas. A comunidade científica e organizações de defesa de pessoas com autismo já descartaram qualquer relação entre imunização e a condição.
Em nota, a organização Autistas Brasil repudiou as declarações de Donald Trump, que associam autismo ao uso de Tylenol e vacinas.
A entidade afirmou que o aumento de diagnósticos de autismo observado nas últimas décadas é reflexo de maior acesso à avaliação e diagnóstico. Eles negaram se tratar de uma epidemia ou crise na saúde pública.
"Até o momento, não há ensaios clínicos randomizados, metanálises robustas ou grandes estudos populacionais que apontem uma relação real. O que vemos é uma estratégia deliberada de transformar nossa condição em um mal a ser combatido, uma cruzada capacitista em nome de um mundo supostamente mais 'normal'", afirmou o vice-presidente da Autistas Brasil, Arthur Ataide Ferreira Garcia.
Projeto político contra pessoas autistas
Arthur Ataide Garcia ainda destacou que a coletiva de Trump não é apenas um erro, mas um projeto político contra pessoas autistas.
"Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea, sem lugar para aqueles tidos como ‘diferentes’, ‘estranhos’, ‘deficientes’”, disse Garcia.
Para ele, é importante estar atento aos discursos que defendem a "cura" do autismo. Isso porque:
- Autismo não é uma doença e não precisa de cura;
- Patologiza a existência de pessoas autistas;
- Esse movimento ameaça a construção de políticas públicas baseadas na inclusão e na emancipação.
Ao invés disso, a sociedade deve:
- Buscar políticas públicas que promovam emancipação;
- Garantir cuidado humanizado, emprego apoiado e educação inclusiva.
Impacto político e científico
O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, afirmou em comunicado que a gestão Trump pretende enfrentar “o aumento da taxa de autismo nos EUA com ciência de padrão ouro”.
Fontes próximas ao governo relatam que houve intensos debates internos sobre o momento do anúncio, diante da sensibilidade política e do impacto potencial na indústria farmacêutica. O tema é um dos pilares da agenda de Kennedy, intitulada “Tornar a América Saudável de Novo”.
O tema ganhou prioridade no governo do presidente Donald Trump, que há anos manifesta preocupação com o aumento dos casos no país. Em 2025, Trump incumbiu sua equipe de buscar soluções.
Entre os envolvidos estão o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., o comissário da FDA, Marty Makary, e o diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), Jay Bhattacharya.
Vínculos entre autismo e Tylenol são frágeis
Alguns estudos sugeriram uma possível associação entre o uso do medicamento e o risco de autismo, mas muitos outros não encontraram essa ligação.
Segundo o psiquiatra infantil e professor da Universidade de São Paulo (USP), Guilherme Polanczyk, as evidências atuais ainda são frágeis. Ele explica que investigar essa relação é um desafio, já que o paracetamol é de venda livre, o que dificulta medir com precisão a quantidade consumida por gestantes.
Outro ponto, destaca o especialista, é que o uso do medicamento pode estar ligado a condições como infecções — que, por si só, também podem aumentar o risco de autismo.
Polanczyk observa que alguns estudos menores identificaram uma associação discreta ao longo do tempo. No entanto, reforça que associação não significa, necessariamente, relação de causa e efeito.