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Sem evidências científicas, Trump cita suposto vínculo entre Tylenol, vacinas e autismo

Sem evidências científicas, Trump cita suposto vínculo entre Tylenol, vacinas e autismo

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Legenda: Em coletiva, Trump defendeu o uso da leucovorina como possível tratamento para autismo
Foto: Shutterstock/Photo Agency.

A entidade Autistas Brasil repudiou as declarações, destacando que coletiva é um projeto político contra pessoas autistas.


Escrito por
Redaçãoproducaodiario@svm.com.br


presidente Donald Trump citou supostos vínculos, sem evidências científicas, entre Tylenol, vacinas e autismo. Nesta segunda-feira (22), em coletiva na Casa Branca, afirmou que os médicos serão recomendados a não utilizar paracetamol. No entanto, o presidente não apresentou evidências médicas que sustentem a recomendação, segundo o g1.

"Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom", declarou Trump. A Food and Drug Administration (FDA, agência reguladora de medicamentos, similar à Anvisa), notificará médicos de que o uso de paracetamol durante a gravidez “pode estar associado” a um risco maior de autismo em crianças. 

Ele estava acompanhado pelo secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., e outros membros do governo.

Medicamentos recomendados para grávidas

As mulheres grávidas serão recomendadas pelo governo dos Estados Unidos a evitar o medicamento. O uso deve ser restrito a apenas ocorrências "estritamente necessárias". 

No mundo, o paracetamol é considerado um medicamento seguro na gravidez. Esse grupo deve evitar usar anti-inflamatórios não esteroidais, como o ibuprofeno.  

Terapia para sintomas de autismo

Em coletiva, Donald Trump ainda defendeu o uso da leucovorina como possível terapia para sintomas de autismo. Esse remédio é um tipo de ácido fólico, utilizado em alguns tratamentos contra o câncer.  

No entanto, diversas pesquisas científicas já evidenciaram que o autismo tem uma base principalmente genética. Ou seja, são genes que podem ser herdados, mesmo que os pais não apresentem sinais. 

Especialistas rebatem suspeitas levantadas por Trump

Durante o pronunciamento, Trump também levantou suspeitas sem comprovação sobre vacinas. A comunidade científica e organizações de defesa de pessoas com autismo já descartaram qualquer relação entre imunização e a condição.

Em nota, a organização Autistas Brasil repudiou as declarações de Donald Trump, que associam autismo ao uso de Tylenol e vacinas. 

A entidade afirmou que o aumento de diagnósticos de autismo observado nas últimas décadas é reflexo de maior acesso à avaliação e diagnóstico. Eles negaram se tratar de uma epidemia ou crise na saúde pública. 

"Até o momento, não há ensaios clínicos randomizados, metanálises robustas ou grandes estudos populacionais que apontem uma relação real. O que vemos é uma estratégia deliberada de transformar nossa condição em um mal a ser combatido, uma cruzada capacitista em nome de um mundo supostamente mais 'normal'", afirmou o vice-presidente da Autistas Brasil, Arthur Ataide Ferreira Garcia. 

Projeto político contra pessoas autistas

Arthur Ataide Garcia ainda destacou que a coletiva de Trump não é apenas um erro, mas um projeto político contra pessoas autistas

"Estão reintroduzindo no século XXI a lógica eugenista que trata pessoas com deficiência como tragédia. O autismo se torna um vilão a ser combatido, e pessoas autistas são reduzidas a sujeitos desumanizados numa cruzada moral em nome de uma sociedade ‘pura’ e homogênea, sem lugar para aqueles tidos como ‘diferentes’, ‘estranhos’, ‘deficientes’”, disse Garcia.

Para ele, é importante estar atento aos discursos que defendem a "cura" do autismo. Isso porque: 

  • Autismo não é uma doença e não precisa de cura; 
  • Patologiza a existência de pessoas autistas;
  • Esse movimento ameaça a construção de políticas públicas baseadas na inclusão e na emancipação. 

Ao invés disso, a sociedade deve:

  • Buscar políticas públicas que promovam emancipação; 
  • Garantir cuidado humanizado, emprego apoiado e educação inclusiva. 

Impacto político e científico

O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, afirmou em comunicado que a gestão Trump pretende enfrentar “o aumento da taxa de autismo nos EUA com ciência de padrão ouro”.

Fontes próximas ao governo relatam que houve intensos debates internos sobre o momento do anúncio, diante da sensibilidade política e do impacto potencial na indústria farmacêutica. O tema é um dos pilares da agenda de Kennedy, intitulada “Tornar a América Saudável de Novo”.

O tema ganhou prioridade no governo do presidente Donald Trump, que há anos manifesta preocupação com o aumento dos casos no país. Em 2025, Trump incumbiu sua equipe de buscar soluções.

Entre os envolvidos estão o secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., o comissário da FDA, Marty Makary, e o diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), Jay Bhattacharya.

Vínculos entre autismo e Tylenol são frágeis

Alguns estudos sugeriram uma possível associação entre o uso do medicamento e o risco de autismo, mas muitos outros não encontraram essa ligação.

Segundo o psiquiatra infantil e professor da Universidade de São Paulo (USP), Guilherme Polanczyk, as evidências atuais ainda são frágeis. Ele explica que investigar essa relação é um desafio, já que o paracetamol é de venda livre, o que dificulta medir com precisão a quantidade consumida por gestantes.

Outro ponto, destaca o especialista, é que o uso do medicamento pode estar ligado a condições como infecções — que, por si só, também podem aumentar o risco de autismo.

Polanczyk observa que alguns estudos menores identificaram uma associação discreta ao longo do tempo. No entanto, reforça que associação não significa, necessariamente, relação de causa e efeito.

diariodonordeste.verdesmares.com.br

Cariri Ativo

23.09.2025