10 anos da campanha Setembro Amarelo e seus impactos sociais - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
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10 anos da campanha Setembro Amarelo e seus impactos sociais

10 anos da campanha Setembro Amarelo e seus impactos sociais

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Divulgação

Especialista alerta sobre os riscos da banalização da saúde mental  

Criada em 2015, o Setembro Amarelo surgiu com o intuito de dar visibilidade ao suicídio, promovendo o debate sobre psicopatologias e sofrimento mental. No entanto, ao longo dos anos, a iniciativa também revelou contradições e equívocos que, muitas vezes, dificultam uma abordagem efetiva. Após uma década de atuação, torna-se necessário avaliar o impacto real da campanha na vida da população. 
Um dos principais problemas está na forma simplificada como o sofrimento mental é retratado, frequentemente associado apenas a uma ideia de solidão ou sintomas. Entretanto, pode se manifestar de diversas maneiras. Para a psicologia, o adoecimento mental é multifacetado, tendo raízes que podem incluir desigualdades econômicas, raciais, de gênero ou orientação sexual. O suicídio é um problema de saúde pública e afeta a população mundial.  
Outro ponto crítico está na comercialização da campanha, adotada por empresas e pela mídia como se fosse uma data comemorativa. Para Jéssyka Andrade, psicóloga e docente do curso de Psicologia do UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau Juazeiro do Norte, quando o assunto se transforma apenas em recurso estético ou de audiência, perde-se a responsabilidade técnica e o vínculo com os serviços de saúde e a real prevenção ao suicídio. “Frases prontas, rotinas perfeitas e editadas e discursos meritocráticos fomentam uma pressão contínua para ‘tornar-se a melhor versão de si’, priorizando engajamento e lucro em detrimento da seriedade do tema”, declara.  
Estatísticas atuais reforçam a necessidade de prevenção efetiva ao longo de todo o ano. De acordo com o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/DataSUS), em 2023, foram registrados cerca de 17.002 óbitos por lesões autoprovocadas intencionalmente. O Ceará é um dos estados com maior taxa, tendo registrado 9.290 mortes entre 2003 e 2023. A faixa etária mais atingida está entre 20 e 49 anos.  
E segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o suicídio afeta também pessoas idosas, acima de 50 anos. A pesquisa ainda mostra que os homens apresentam as maiores taxas (71%) de óbitos. Contudo, de acordo com especialistas, nos últimos anos, identifica-se um forte crescimento entre mulheres (23% desde 2000, contra 14,4% entre homens).  
Diante disso, é possível afirmar que a campanha avançou pouco no enfrentamento ao suicídio. Embora tenha aberto espaço para o diálogo e a visibilidade do assunto, não promoveu mudanças estruturais significativas. Ou seja, é urgente a implementação de ações públicas efetivas.  
“Essa atuação precisa estar articulada com as políticas públicas e uma educação para a transformação social. Expansão e qualificação do CAPS e atenção básica, financiamento das linhas de apoio, programas educativos, garantia de direitos, treinamento de profissionais e monitoramento epidemiológico são alguns pontos importantes. Não podemos reduzir a prevenção ao mês de setembro. Valorizar e defender os serviços de saúde e assistência social é imprescindível”, afirma Jéssyka.  
Pesquisas lançadas nos últimos anos alertam para os riscos da banalização do tema na mídia e nas redes sociais. Especialistas destacam que, quando conduzida de forma superficial, a campanha pode afastar justamente quem mais precisa de ajuda, reforçando o estigma em torno da busca por apoio.  
Mais do que promover slogans e reduzir a valorização da vida a apenas um mês do ano, se faz necessário a criação de ações práticas efetivas, oferecendo locais acolhedores e formação profissional capacitada para prestar o apoio emocional necessário. O suicídio não é um evento passageiro, por isso, o diálogo com toda a sociedade deve ser contínuo e sério.  
“Coberturas midiáticas e redes sociais contribuem para esse processo quando recorrem ao sensacionalismo, detalham métodos ou expõem cenas sensíveis. Além de aumentar o efeito de contágio, não oferecem informações claras sobre onde buscar ajuda”, completa Jéssyka.  
Saiba onde pedir ajuda 
Os municípios brasileiros dispõem de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Unidades Básicas de Saúde (saúde da família, postos e centros de saúde) para acolhimento da pessoa em crise e com ideação suicida. Outro canal de escuta ativa é o Centro de Valorização da Vida, organização não governamental que conta com apoio 24h. Ele está disponível pelo telefone 188, chat no site oficial, e-mail ou pessoalmente em alguns lugares do país. 

Imagem: Freepik


Estou à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas. 
Atenciosamente,



Cariri Ativo

01.10.2025