Diretor do Dnocs ligado a deputado do União Brasil foi exonerado do cargo; medida tem atingido parlamentares que votaram contra MP do IOF
O Governo Federal publicou, no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (14), o primeiro decreto de exoneração que atinge um dos parlamentares cearenses responsáveis por indicações para cargos na gestão. Se trata da demissão de Alex Renan de Sousa Galvão, aliado do deputado federal Moses Rodrigues (União) que atuava como diretor de Desenvolvimento Tecnológico e Produção do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
Ao PontoPoder, o parlamentar federal disse que não interpretou a saída de Galvão do órgão como uma retaliação. "O Governo tem autonomia de decidir", ponderou.
A medida já havia sido antecipada pelo líder governista, o deputado federal José Guimarães (PT), no sábado (11). O estopim para a decisão foi a derrubada da “MP do IOF” no Congresso Nacional, durante a última semana. O texto previa novas regras para a tributação de aplicações financeiras e ativos virtuais no País.
Na ocasião, o petista afirmou que a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), iria exonerar aliados de parlamentares que têm votado contra projetos enviados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
'Passar a faca'
“Eu acho que vai ter um rebuliço do tamanho do mundo na próxima semana. Qual é o rebuliço? A Gleisi vai meter a faca. Estou dizendo isso porque ela já me disse”, comentou Guimarães numa participação no podcast As Cunhãs.
Ao que afirmou o deputado, cearenses com indicações na estrutura da administração federal teriam o procurado para pedir ajuda após votos contrários e a auxiliar do Governo Lula teria “uma lista” de cargos que estriam no alvo da sua decisão.
“Sei os daqui do Ceará que têm cargos importantes… Ela disse que vai meter a faca. Sabe por quê? Moraliza, estabelece-se a crise e aí se recomeça a discutir mesmo. Aí recompõe”, completou o político durante a entrevista, afirmando ainda que a colega de partido estaria “muito decidida”.
Conforme salientou o petista, houve uma determinação direta do chefe do Executivo para que a ministra pudesse agilizar as exonerações. A Caixa Econômica Federal, nas palavras de Guimarães, foi classificada por Lula como “um vespeiro”, objeto da primeira ação de exonerações.
As primeiras demissões ocorreram já na sexta-feira (10), com a exoneração de superintendentes regionais de órgãos ligados a ministérios e filiados a partidos como o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Partido Social Democrático (PSD).
Foram atingidas, na primeira leva, superintendências do Ministério da Agricultura no Pará, Paraná, Minas Gerais e Maranhão; bem como nomes na Caixa Econômica Federal e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Roraima.
Cearenses contrários
No Ceará, oito parlamentares, integrantes de siglas a exemplo do Progressistas (PP), do Partido Liberal (PL), do União Brasil (União), do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e do PSD votaram contra a “MP do IOF”, ao concordarem com a retirada dela da pauta de votação no plenário, na quarta-feira (8) — com isso, a medida perdeu a validade.
O PontoPoder acionou os aliados do Governo Lula que foram contrários à apreciação da medida. Um deles, o deputado Júnior Mano (PSB), respondeu que “divergências fazem parte da política e da democracia”. “O importante é prevalecer o respeito e o propósito comum de servir ao povo”, adicionou ele, afirmando ainda que não possui cargos.
Moses Rodrigues, embora não seja aliado, ensaia uma estratégia de aproximação dos petistas no Ceará e votou contra a MP. Ele possuía ao menos uma indicação no Governo Lula, a de Alex Renan de Sousa Galvão.
Nesta terça-feira (14), em entrevista ao PontoPoder, ele ressaltou que é um "parlamentar independente". O político disse que "conhece" Galvão e que ele foi "sondado, à época, para assumir uma diretoria no Dnocs. Foi contratado pelo currículo e foi desligado agora, não sei as motivações, mas foi uma decisão do Governo".
"Não tenho nenhum tipo de problema quanto a isso, porque, como parlamentar independente, eu quero manter a minha independência e votar conforme a minha consciência aqui no Congresso Nacional. Então, se houve alguma motivação política, a mim não vai atingir, porque eu, como um parlamentar independente, que tenho uma base no Ceará de forma muito independente, não vai afetar", completou. Galvão foi procurado via e-mail institucional nesta terça. O espaço está aberto a manifestações.

No caso de Moses e Júnior, pretensos candidatos ao Senado Federal em 2026, os votos contrários em projetos governistas podem ter outras repercussões, além da perda de eventuais cargos. Isto porque governistas já sinalizaram que o presidente Lula não irá chancelar a candidatura de políticos que votaram contra o governo na eleição do próximo ano.
Indicações públicas
A influência de lideranças e partidos na composição de autarquias, empresas públicas e outros órgãos conta movimentações conhecidas. Na listagem estão figuras que atualmente ocupam estruturas que vão desde o Dnocs ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O ex-deputado federal Heitor Freire, hoje diretor de Gestão de Fundos, Incentivos e de Atração de Investimentos da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), é um dos cearenses que estão lotados na gestão graças a uma indicação do partido. Na época em que foi nomeado, o então presidente do partido, Luciano Bivar foi o responsável por indicá-lo.
No Dnocs, o diretor Administrativo do Dnocs, Narcélio Albuquerque, é uma indicação da deputada federal Fernanda Pessoa (União). Em outra diretoria do órgão havia o, agora exonerado, Alex Renan de Sousa Galvão, aliado de Moses Rodrigues.
Indagada, Pessoa frisou que, no seu caso, “não há qualquer motivo para retaliação”. “Sempre mantive uma relação de diálogo e respeito com o governo federal e votei, na grande maioria das vezes, a favor das pautas governistas que considero importantes para o Brasil”, argumentou. Ela se ausentou na votação da “MP do IOF” por “compromissos políticos no Ceará”, segundo justificou.
Já o superintendente regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no Ceará, Odilon Aguiar, é membro do membro do PSD e integra o clã familiar do deputado federal Domingos Neto (PSD) — que votou favorável ao governo na MP. Ao PontoPoder, Neto, que é líder da bancada estadual, disse que não está participando da discussão.
Há também o cearense Francisco Egídio Pelúcio Martins, que ocupa a vice-presidência de Pessoas da Caixa por indicação do Partido Democrático Trabalhista (PDT). O presidente estadual do PDT Ceará, o deputado federal André Figueiredo (PDT), pontuou que não seria o caso do partido, quando indagado sobre a decisão da ministra Gleisi Hoffmann.
E, na superintendência do Ibama no Ceará, está, por indicação da deputada federal Luzianne Lins (PT), o ex-presidente do PT Fortaleza e ex-vereador Deodato Ramalho. Embora seja alinhada às decisões da sua agremiação, a parlamentar foi acionada para que pudesse comentar sobre a medida da gestão, mas não deu devolutiva até a publicação deste conteúdo.
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Cariri Ativo
15.10.2025