O atual advogado-geral da União é visto como nome de confiança do presidente e pode permanecer até 30 anos na Corte
Desde o pedido de aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso, os bastidores de Brasília se voltaram à disputa pela nova vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Dois nomes rapidamente emergiram como favoritos: Jorge Messias, atual advogado-geral da União (AGU), e o senador mineiro Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ex-presidente do Senado.
Entre ambos, Messias — pernambucano, 44 anos, doutor em Direito pela UnB — é hoje o nome mais forte. Sua proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, somada ao histórico de confiança e discrição, o coloca como favorito para a indicação.
Perfil de Messias

Natural do Recife, Jorge Messias de Morais ganhou projeção nacional durante o segundo mandato de Dilma Rousseff, quando foi secretário de Assuntos Jurídicos da Presidência.
À época, foi apelidado de “Bessias” em referência a um diálogo de 2016 sobre a nomeação de Lula para a Casa Civil — episódio que o marcou, mas do qual conseguiu se desvincular nos anos seguintes.
Hoje, Messias comanda a AGU e é visto por interlocutores de Lula como um quadro técnico e leal. É casado, pai de dois filhos e torcedor fanático do Sport Recife.
Evangélico, sua eventual indicação também é considerada estratégica por interlocutores do Planalto, que avaliam o gesto como uma ponte com o eleitorado evangélico, grupo em que o presidente ainda enfrenta resistência.
De advogado-geral a ministro
Caso seja confirmado, Messias repetiria um caminho trilhado por outros ministros que ocuparam a AGU antes de chegar ao Supremo: Gilmar Mendes, nomeado por Fernando Henrique Cardoso; Dias Toffoli, indicado por Lula; e André Mendonça, escolhido por Jair Bolsonaro.
A função de advogado-geral concede acesso direto ao presidente e ao núcleo político, além de protagonismo nas principais disputas judiciais do país. De fato, uma plataforma poderosa para futuras nomeações.
O que pensa Jorge Messias
Aborto e temas morais
Messias é descrito por aliados como moderado, de perfil conservador, mas institucionalista. Pessoas próximas afirmam que ele não é favorável ao aborto, embora defenda que decisões sobre o tema devam ser guiadas pelo princípio do Estado laico.
Em discussões desse tipo, tende a buscar “soluções de consenso”, baseadas no diálogo e no respeito às competências constitucionais.
Relação entre STF e Congresso

Durante sua tese de doutorado na Universidade de Brasília, Messias previu o protagonismo crescente do Supremo em meio a disputas políticas e econômicas.
“As medidas mais relevantes do país tendem a ter sua constitucionalidade questionada perante o Judiciário”, afirmou à época, defendendo a atuação equilibrada entre poderes.
Trabalhadores de aplicativos
Messias é contra a aplicação integral da CLT à motoristas de aplicativo e entregadores. Para ele, o modelo ideal é de garantias previdenciárias e de proteção social mínima, sem vínculo empregatício formal.
O entendimento é visto como uma tentativa de equilibrar proteção social e flexibilidade econômica.
Apostas e jogos online.
Na regulamentação das apostas esportivas, defende que o tema seja tratado dentro dos limites constitucionais, alertando para riscos à saúde mental e financeira dos usuários. Segundo ele, a ausência de parâmetros claros levaria a uma “inconstitucionalidade progressiva”.
Marco temporal e povos indígenas
Na condução do grupo de conciliação sobre o marco temporal, Messias tem buscado um caminho negociado entre governo e comunidades indígenas, evitando confrontos diretos com o Congresso.
Ensino de gênero
Em manifestação à ministra Cármen Lúcia, o AGU afirmou que não cabe a estados e municípios definir currículos com base em “conteúdos discriminatórios”, cabendo à União estabelecer temas basilares da educação, como cidadania e igualdade de gênero.
A disputa com Pacheco

O principal concorrente de Messias é Rodrigo Pacheco, apoiado por líderes do Senado, incluindo Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Lula, porém, tem dado sinais de que prefere o senador como candidato ao governo de Minas Gerais em 2026, movimento visto como mais útil eleitoralmente.
Nos bastidores, o presidente já indicou a aliados que pretende reservar a próxima vaga — a de Luiz Fux, que se aposenta em 2028 — para Pacheco, caso ele não vença a disputa estadual.
O que está em jogo
Se confirmado no STF, Jorge Messias poderá permanecer até 2055, quando completará 75 anos, idade limite para aposentadoria compulsória.
Sua nomeação reforçaria a presença de ministros de perfil jurídico próximo ao presidente — ao lado de Flávio Dino e Cristiano Zanin — e consolidaria a marca de Lula sobre a nova composição da Corte.
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Cariri Ativo
17.10.2025