70% do orçamento é para a Polícia Militar.
24 das 27 unidades federativas enviaram os dados para o centro de pesquisa. Dentre as unidades do Nordeste que informaram seus números, o Ceará surge como o segundo estado que mais gastou com as polícias e o primeiro da região que mais gastou com o Sistema Prisional.
Maranhão, Piauí e Roraima não enviaram os registros, de acordo com o estudo. Os ‘marcadores’ utilizados no estudo, segundo o Justa, foram o Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA) e Balanço Geral de cada Estado.
VEJA RANKING DOS 10 ESTADOS:
Gastos com Polícias (em números absolutos)
- São Paulo: R$ 16 bilhões
- Rio de Janeiro: R$ 10 bilhões
- Minas Gerais: R$ 8 bilhões
- Bahia: R$ 5,9 bilhões
- Rio Grande do Sul: R$ 4,3 bilhões
- Paraná: R$ 4 bilhões
- Pará: R$ 3,9 bilhões
- Mato Grosso: R$ 3,9 bilhões
- Ceará: R$ 3,7 bilhões
- Pernambuco: R$ 3,5 bilhões
O orçamento total das 24 UFs é de R$ 1,3 trilhões para polícias, sistema prisional e políticas para egressos. Assim como no restante do País, a maior parte do recurso das polícias é destinada à Polícia Militar.
De acordo com o Governo, atualmente a PMCE conta com 20.483 policiais militares na ativa.
O Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), também disse em nota “que segue fortalecendo ações ostensivas realizadas pela Polícia Militar do Ceará (PMCE). Para tanto, são realizados investimentos contínuos visando o incremento do efetivo, com a realização de concursos, e a aquisição de equipamentos que possam auxiliar o trabalho realizado pela corporação”.
“Somente em 2024, foram executados R$ 2.478.740.200,41 com pagamento de policiais militares e R$ 77.855.369,90 referentes a aquisição de equipamentos e expansão de batalhões. Já no ano de 2025, entre janeiro e novembro, foram executados R$ 2.364.943.933,26 no pagamento de servidores e R$ 51.705.163,04 para a entrega de viaturas, promoções de pessoal, concursos, entrega de armas e na reforma do Hospital e Maternidade da PMCE José Martiniano de Alencar”
INVESTIMENTOS
Felippe Angeli, mestre em Ciências Políticas e coordenador de Advocacy do Justa, diz que “obviamente que se tem as particularidades regionais e temos que olhar para outros dados, mas que quando a gente olha para o funil do investimento, é um cenário homogêneo em todo o País, um investimento massivo em todas as Polícias”.
“70% do orçamento é para a Polícia Militar. 20% para a Polícia Civil e o restante Polícia Científica e gastos compartilhados. A gente começa a olhar que não se trata de uma falta de recurso, mas a destinação do recurso”.
No Ceará, R$ 2,61 bilhões são para a Polícia Militar. Quase o triplo do que é destinado às demais.

“O investimento maior no policiamento ostensivo é o que dá mais resultado eleitoral. Mas isso tem uma consequência muito específica. Aumenta a prisão em flagrante e acabam sendo prisões ‘mais simples’, que é o que a gente tem observado: em geral jovens, negros e periféricos, presos em flagrante por crimes menos complexos em detrimento de crimes mais complexos. Se gasta mais com o policiamento ostensivo gerando uma prisão de 'baixa qualidade' no geral”, afirma o pesquisador.
“Áreas estratégicas de trabalho investigativo são subfinanciadas”, de acordo com a pesquisa Justa.
Já a SSPDS afirma que “os investimentos visam a redução de indicadores estratégicos de criminalidade e à promoção da defesa social por meio da atuação dos profissionais da segurança pública. E como resultado, destaca-se que o Ceará registra a diminuição de 7% no número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), entre janeiro e outubro de 2025”.
No entanto, conforme noticiado pelo Diário do Nordeste, com 284 homicídios, outubro foi o mês mais violento de 2025.
No acumulado do ano atual, entre janeiro e outubro, o Ceará soma 2.523 CVLIs. Em igual período do ano passado, foram 2.713 mortes violentas.
‘SEGURANÇA PÚBLICA É CARO’
O professor de sociologia e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fábio Paiva, garante: “nós escutamos muito dos próprios profissionais da Segurança Pública que o trabalho policial precisa ser mais qualificado, mais investigativo e que exponha menos o policial às situações de violência”.
De acordo com o sociólogo, as forças policiais têm a demanda de que sejam feitos investimentos estratégicos que privilegiem ações investigativas em detrimento de ações ostensivas.
“Quando a gente olha para esse orçamento precisamos pensar como ele foi distribuído. A atividade policial é uma dimensão de uma boa política de segurança pública e Segurança Pública é caro. O que eu preciso pensar é como esse investimento dialoga com uma série de outros investimentos que são necessários, como infraestrutura urbana, qualificação da força de trabalho, promoção de emprego e renda, cultura, saúde…”, pontua Luiz Fábio Paiva ao dizer que é preciso ver como os valores são distribuídos.
O Governo também diz que segue investindo na contratação de profissionais para reforçar a segurança pública e “que há previsão de nomeação de mais 1.000 soldados por meio de concurso em andamento”.
SISTEMA PRISIONAL
Sobre o Sistema Prisional, de acordo com a Pesquisa, o Ceará gastou em 2024 R$ 772 milhões.
- São Paulo: R$ 4,9 bilhões
- Minas Gerais: R$ 2,7 bilhões
- Rio Grande do Sul: R$ 1,8 bilhão
- Paraná: R$ 1,3 bilhão
- Rio de Janeiro: R$ 1,3 bilhão
- Espírito Santo: R$859 milhões
- Ceará: R$ 772 milhões
- Bahia: R$ 728 milhões
- Distrito Federal: R$ 649 milhões
Felippe Angeli garante: “é uma conta que não fecha. Se gasta um imenso dinheiro para prender pessoas e com a custódia brutal. Isso gera a proliferação das facções criminosas e o impacto que elas têm. As facções se beneficiam desse modelo”.
A reportagem demandou a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) para comentar sobre os investimentos e valores, mas não teve resposta.
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Cariri Ativo
17.11.2025


