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Ferrovias abandonadas no Ceará podem virar linhas de trens regionais de passageiros

Ferrovias abandonadas no Ceará podem virar linhas de trens regionais de passageiros

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Legenda: Trem de passageiros pode ser uma alternativa até para o transporte aéreo.
Foto: Romário Pinheiro/Governo do Ceará.

Especialistas sugerem reaproveitar estruturas ociosas; governo já conduz estudos técnicos no Ceará.


Escrito por
Luciano Rodriguesluciano.rodrigues@svm.com.br


Para aproveitar os mais de 600 quilômetros de ferrovias abandonadas no Ceará, uma das soluções apontadas por especialistas é reativar parte desses trechos para o transporte de passageiros por meio de trens regionais, interligando cidades distantes.

Essa avaliação foi compartilhada por especialistas ouvidas pelo Diário do Nordeste durante a Expolog - Feira Internacional de Logística, realizada nesta semana no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza. 

As ferrovias abandonadas são oficialmente chamadas pela Ferrovia Transnordestina Logística (FTL), concessionária de mais de 3 mil km de linha férrea desativadas em cinco estados nordestinos, de malha não operacional, e é justamente sobre ela que recai a análise das especialistas.

A própria concessionária já deu inúmeras declarações de que não pretende reativar esses trechos. Atualmente, tamita no Tribunal de Contas da União (TCU) o processo de renovação antecipada da malha operacional, com 1.237 km entre Fortaleza e São Luís (MA).

Entenda o que está em estudo no Ceará

Enquanto as linhas férreas da malha não operacional da FTL estão abandonadas há anos e se deterioram, Lilian Campos, superintendente de inteligência de mercado da Infra S.A., empresa pública vinculada ao Ministério dos Transportes, explica que o Brasil tem 13 projetos de trens regionais de passageiros em andamento, todos em fase de estudo técnico.

Esses sistemas visam aproveitar partes de ferrovias que estejam desativadas ou com outros usos. No caso do Ceará, o trajeto em estudo pretende ligar Fortaleza a Sobral, usando um trecho da malha operacional da FTL, além de um Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT) entre Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte, no Cariri.

"Temos atuado fortemente em renegociações e repactuações. Existe a discussão de que alguns desses trechos podem ser convertidos, por exemplo, para transporte de passageiros, para serem reutilizados. Tem um cálculo que está sendo feito sobre os custos dessa devolução, e em breve devemos ter boas notícias sobre o destino da malha não operacional", explica Lilian.

"Tem um trecho aqui no Ceará que o Fortaleza-Sobral, trecho que vai beneficiar muito a chegada da população. É a malha operacional, mas não está para passageiros. Licitamos 13 trechos para estudo, e no Ceará temos esse que é Fortaleza-Sobral e VLT na região do Cariri", completa.

Conforme o Ministério dos Transportes, compete à Infra S.A. realizar o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) sobre o trem de passageiros entre Fortaleza e Sobral, ao custo de R$ 2,3 milhões

Trem regional de passageiros é saída para transporte entre cidades?

Atualmente, somente três sistemas ferroviários funcionam no Ceará entre uma ou mais cidades, todos inseridos dentro de regiões metropolitanas e operados pela Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor):

  • Linha Oeste do Metrofor: interliga Caucaia e Fortaleza;
  • Linha Sul do Metrofor: interliga Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba;
  • VLT do Cariri: interliga Crato e Juazeiro do Norte.

A ferrovia abandonada entre Fortaleza e Crato pode ter um destino similar aos VLTs de Arapiraca (AL) e Campina Grande (PB), com o aproveitamento de parte da malha não operacional, como analisa Fernanda Rezende, diretora-executiva da Confederação Nacional do Transporte (CNT).

A operação de um trem é mais barata do que a aérea, consegue levar grandes quantidades de pessoas não em um tempo curto, mas que não pega congestionamento. Quando tem esse paralelismo de linha de cargas com passageiros, passageiro sempre tem prioridade. Vai dar mais celeridade e segurança, e quando as pessoas se locomovem, vão gerando riqueza naqueles polos onde vão trabalhar ou consumir. Isso impulsiona a economia das localidades".
Fernanda Rezende
Diretora-executiva do CNT

Ainda de acordo com Fernanda, o trem de passageiros em análise "precisa ser mais rápido" do que as locomotivas tradicionais, principalmente para justificar o custo-benefício da operação.

"Às vezes se faz um trem de alta velocidade e o custo acaba inviabilizando a operação. Vai ser um dinheiro jogado fora. Tem que avaliar a demanda, quem são os passageiros que vão ser transportados ali, qual a capacidade que eles têm de sustentar financeiramente o sistema, porque se não fica inoperante", pontua a especialista. 

Ferrovias são 'espinhas dorsais' de um sistema alimentado por ônibus e caminhões 

Seja para cargas ou para passageiros, ambas as especialistas concordam ser preciso que as ferrovias sejam "alimentadas" pelo transporte rodoviário, em especial ônibus e caminhões.

Lilian Campos destaca a Transnordestina, sendo construída justamente em substituição à malha não operacional da FTL, e que já é considerada o principal eixo estruturante da logística cearense e nordestina.

"A Transnordestina é que viabilizará o desenvolvimento dos polos no interior do Ceará e promoverá a conectividade com o Porto do Pecém, que tem esse perfil específico para cargas de alto valor agregado. Temos uma malha rodoviária ampla, e temos promovido investimentos para manutenção e cooperação. Nossa visão é de que todo o sistema de transporte do Ceará esteja conectado com o nacional para dar eficiência logística", argumenta a representante da Infra S.A.

Trem de carga da Transnordestina Logística circula por trecho da ferrovia no Nordeste, parte do projeto que conecta Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE).
Legenda: O empreendimento é considerado estratégico para o escoamento de grãos, minérios e outros produtos pelo Porto do Pecém.
Foto: Divulgação

Fernanda Rezende é enfática em classificar que o transporte rodoviário no Brasil — e no Ceará — tem que assumir a característica complementar às ferrovias, e não um protagonismo isolado em grandes deslocamentos.

Precisa-se de grandes eixos estruturantes para circular cargas e pessoas por uma longa distância de forma mais rápida, e tem que ter esses sistemas alimentadores. Isso é o que ônibus e caminhão fazem muito. Precisa construir não só uma rede estruturante, mas uma rede que tenha capilaridade. Tem uma ferrovia de escoamento de carga, como a Transnordestina, que faz o eixo estruturante, e o caminhão leva dos pequenos centros de distribuição para os terminais ferroviários. Sozinhos eles não funcionam". 
Fernanda Rezende
Diretora-executiva do CNT

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Cariri Ativo

01.12.2025