Autor Vítor Magalhães, Taynara Lima
O senador cearense Eduardo Girão (Novo) lançou oficialmente a pré-candidatura ao Governo do Ceará para as eleições de 2026. O evento foi marcado pela presença de diversos líderes políticos da direita, dentre eles a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL); o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo); o deputado federal André Fernandes (PL) e outros parlamentares federais e estaduais alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O evento teve forte caráter político - e tom religioso -, com apoiadores presentes pedindo anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro e a soltura do ex-presidente Bolsonaro, preso após ser condenado por tramar um golpe. Outro ponto de atenção durante o evento foram as críticas feitas ao ex-governador Ciro Gomes (PSDB), outro postulante ao Palácio da Abolição em eventual aliança de oposição no Estado. Para os críticos, Ciro não representaria um projeto da direita.
Em coletiva e sem citar nomes, Girão voltou a bater na tecla da “coerência” durante o evento. “Se tem uma palavra que resume essa pré-candidatura é coerência. De valores, princípios, em defesa da vida, família, da ética, da liberdade. Algo que coloquei na vida inteira com missão”. Em outubro, em entrevista ao O POVO, o senador cobrou que a oposição no Ceará seguisse a mesma linha e destacou que "Ciro nunca teve identidade com a direita".
O senador fez críticas aos governos federal e estadual, ambos liderados pelo PT, e pediu unidade da direita, lembrando que o PL e o Novo são parceiros no Congresso.
“A direita e os conservadores têm legitimidade. É isso que pretendemos fazer, com uma administração séria. É isso que faremos no Ceará, com esse time do Novo e com apoio de outros partidos também. O PL faz bloco na Câmara com o Novo. No Senado, somos apenas o PL e o Novo. Temos que estar juntos aqui (no Ceará) também”, defendeu.
'Puxão de orelha' e reação
As críticas a Ciro surgiram durante falas no palco do evento de Girão. Embora o senador não as tenha feito, aliados não pouparam munição contra o ex-ministro. Em dado momento, um clima de tensão se instalou devido à fala de Michelle Bolsonaro, que deu um 'puxão de orelha' em líderes do PL cearense pelo alinhamento com Ciro Gomes.
Michelle Bolsonaro fez críticas a Ciro e disse que o PL Ceará se precipitou ao se aliar ao ex-ministro. A fala gerou desconforto em André Fernandes, presidente estadual da sigla e responsável por costurar a aliança. “Não podemos aceitar isso. Se meu presidente apoia outro candidato, ele não fala por mim. Eu tenho autonomia no meu movimento feminino que se tornou o maior da história”, disse Michelle.
No palco, André se demonstrou incomodado com a cobrança pública. Antes de Michelle falar, Fernandes havia feito discurso lembrando a trajetória de proximidade com Girão em eleições anteriores e exaltando o currículo do aliado. Durante a fala do presidente do PL Ceará, parte dos presentes gritava: "Ciro não".
Após a fala da ex-primeira-dama, André convocou coletiva de imprensa e se pronunciou sobre o assunto, lembrando que a aliança com Ciro tinha aval do ex-presidente Bolsonaro. “Desde que a gente levou essa ideia de aliança ao presidente Bolsonaro, dia 29 de maio, quando me reuni e levei todos os parlamentares do Ceará para conversar sobre essa aliança. Eu tenho orgulho de dizer que estou construindo desde lá de trás, desde o final do segundo turno das eleições de 2024, porque eu entendo o momento aqui no Ceará", afirmou.
André revelou ainda que havia um combinado com Bolsonaro de que reuniões internas não seriam comentadas publicamente. “Já que, infelizmente, a própria esposa do presidente Bolsonaro vem e tenta chegar aqui e dizer que a gente fez uma movimentação errada; (...) o próprio presidente Bolsonaro pediu para a gente ligar para Ciro Gomes no viva-voz. Ficou acertado que nós apoiaríamos Ciro. Logo em seguida o presidente Valdemar também. Só que o acordo era ‘é muito ruim Bolsonaro se aproximar de Ciro Gomes, coloca o André que qualquer pancada o André aguenta”, mencionou.
Na mesma conversa, segundo o deputado, Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, teria expressado que a união era “importante”. Ele continuou: “Eu não viria a expor, mas já que a esposa do ex-presidente Bolsonaro diz publicamente que a gente fez um passe errado, que foi precipitada essa aliança. Bom, então é uma aliança precipitada do próprio marido dela”, ironizou.
Também estiveram presentes no evento o presidente do União Brasil Ceará, Capitão Wagner; o senador Plínio Valério (PSDB), a vereadora Priscila Costa (PL); o desembargador aposentado Sebastião Coelho; dentre outros nomes da oposição nacional. Coelho foi outro que disparou contra Ciro: “Falar mal da família Bolsonaro. Falou mal do Eduardo nos EUA; este homem pode ser candidato, mas não tem o direito de dizer que representa a direita”, bradou ao exaltar Girão como legítimo representante do grupo.
Girão e outros pré-candidatos da oposição
Em coletiva, antes do ocorrido entre Michelle e André, Girão foi questionado sobre como dialogar com outras possíveis pré-candidaturas de oposição, como Ciro ou o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio. O senador disse que todos os apoios “são bem-vindos”, mas reforçou que o projeto deve ser liderado por conservadores.
“Acredito que a direita e os conservadores têm que puxar esse trem aqui no Ceará”, disse, agradecendo a presença dos aliados no ato. Ele continuou: “A presença de Michelle nos dá alegria e nos enche de responsabilidade. Representa muito para que a gente possa se unir com coerência. Os fins não justificam os meios. Precisamos derrotar o PT, mas nós da direita temos valor para mostrar nosso trabalho”, declarou ao defender um legítimo representante da direita na cabeça da chapa de oposição.
Perguntado sobre a possibilidade de união com Ciro, Girão não descartou o diálogo, mas reforçou que o ex-ministro não se colocou oficialmente.
“Nomes estão postos no cenário. Ele (Ciro) nunca falou que é pré-candidato ao governo. O importante é o seguinte, que a direita e os conservadores precisam mostrar o trabalho. Temos exemplos disso em Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo. A junção de pessoas, mas com a direita e os conservadores puxando esse trem, o cearense merece uma nova forma de governar”.
Com informações da repórter Taynara Lima
opovo.com.br
Cariri Ativo
01.12.2025


