Perfil criado no Instagram expõe traições e comenta vida pessoal de moradores.
Pelo menos 60 moradores tiveram os nomes citados pela conta apócrifa, acompanhados de frases difamatórias. Acusações de traição e de mulheres supostamente trabalhando como garotas de programa, bem como especulações sobre a sexualidade dos moradores são alguns dos conteúdos principais divulgados no perfil.
A página, inicialmente nomeada "Babados de Itatira", chegou a sair do ar, mas foi recriada com nomes de usuário similares, seguindo na divulgação de fofocas.
Por se tratar de uma cidade pequena, a exposição vem afetando diretamente a vida dos moradores, que vêm sofrendo ameaças e até mesmo agressões físicas devido ao conteúdo divulgado.
Aproveitando-se da situação vulnerável dessas pessoas, a pessoa responsável pela página, que não se identifica, já chegou a extorquir três vítimas, pedindo dinheiro em troca de informações sobre quem enviou a fofoca e cobrando para apagar publicações.
Ao Diário do Nordeste, um dos moradores informou que algumas pessoas já foram à Delegacia Regional de Canindé, a cerca de 80 quilômetros de Itatira, para registrar boletim de ocorrência pela exposição.
Nessa segunda-feira (22), o Diário do Nordeste entrou em contato com a delegacia e com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para solicitar detalhes sobre a investigação do caso. Quando houver retorno, este texto será atualizado.
Fofocas e conflitos na Cidade
O perfil costumava fazer postagens nos stories do Instagram, colocando uma caixa de perguntas pedindo "babados" e "fofocas" da Cidade. As respostas eram divulgadas pela conta, incluindo o nome das vítimas. Nessa segunda-feira, o perfil não estava mais no ar.
Em uma das publicações, o responsável pela página expôs um print com o nome de um dos usuários que compartilhou informações, buscando "justificar" que não é ele quem cria as fofocas.

Em vídeo enviado ao Diário do Nordeste, duas mulheres aparecem brigando em um estabelecimento da Cidade. Segundo testemunhas, a discussão aconteceu porque o perfil revelou que a funcionária de uma delas, que aparece sendo agredida, seria responsável por passar uma informação ao perfil de fofoca. "Isso foi apenas uma das brigas que teve aqui, [mas] foram várias", afirmou um dos moradores à reportagem.
Extorsão de até R$ 120
Pelo menos três pessoas foram induzidas a repassar valores via Pix em troca de respostas sobre quem enviou a fofoca ao perfil ou para que a postagem fosse apagada. Os valores variaram entre R$ 70 e R$ 120.
O destino da transferência bancária é sempre o mesmo: uma conta que leva o nome de Daniel da Silva Rocha.
Segundo uma testemunha, algumas pessoas com o mesmo nome chegaram a ser apontadas como responsáveis pelo conteúdo. As informações já foram repassadas à Polícia.
Acusações e ameaças
Na última semana, uma pessoa chegou a afirmar que a página era controlada por "um homem gay". Sem confirmação, a informação se espalhou na Cidade e colocou em risco a vida de moradores de Itatira.
Uma dessas pessoas conversou com o Diário do Nordeste e relatou que as ameaças foram constantes, ocorrendo, inclusive, durante a madrugada. "Diziam que eu ia levar bala, levar bala na cara", contou. "Isso não é só comigo. Tem várias pessoas que estão passando pela mesma coisa, e esse culpado tem que aparecer", afirmou.
Outro morador da Cidade, que também foi acusado de ser o dono do perfil de fofoca, relatou estar com "medo de sair na rua e não voltar mais com vida". "O medo está me corroendo por dentro, porque nossas vidas importam. Não é fácil lidar com essa situação", disse.
*Estagiária sob supervisão da jornalista Mariana Lazari.
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Cariri Ativo
23.12.2025


