Racismo estrutural: 87% dos presos no Ceará são pretos ou pardos - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
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Racismo estrutural: 87% dos presos no Ceará são pretos ou pardos

Racismo estrutural: 87% dos presos no Ceará são pretos ou pardos

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Legenda: Especialistas destacam que há uma necessidade de controle sobre as pessoas negras.
Foto: Divulgação/SAP-CE

O diretor de Pesquisa e Avaliação de Políticas de Segurança Pública da Supesp diz que o problema da associação do povo negro à criminalidade ainda existe.


Escrito por
Sofia Leite*seguranca@svm.com.br


O Ceará conta, atualmente, com 21.457 pessoas encarceradas. Desse total, 18.664 se autodeclaram pretas ou pardas, o que representa 87% da população carcerária do estado. Os dados são de novembro de 2025 e foram fornecidos pela Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização (SAP).

Para o historiador Isaac Santos, esses números estão ligados ao chamado racismo estrutural, que se faz presente no Brasil desde o processo de escravidão. Segundo ele, há uma necessidade de controle sobre as pessoas negras.

 O controle disciplinar é feito a partir da violência durante todo o período da colonização, e isso vai permanecer como uma prática na cultura do Brasil.


O diretor de Pesquisa e Avaliação de Políticas de Segurança Pública da Supesp, Eudázio Sampaio, afirma que, mesmo 137 anos após a abolição da escravidão, o problema da associação do povo negro à criminalidade ainda existe.

Para ele, a Polícia executa ações racistas que colocam pessoas negras às margens da sociedade, mas ela é apenas a ponta do iceberg. Os sistemas de educação, saúde e proteção social também devem ser levados em consideração nas discussões sobre essa problemática.

Tentativas dos órgãos de segurança para diminuir a reprodução do racismo

Eudázio Sampaio explica que a questão do racismo praticado pelas forças de segurança é muito complexa e tem como uma das motivações o fato de os policiais não terem noções básicas sobre as pautas raciais. Tendo isso em vista, ele organiza e realiza letramentos raciais voltados para os servidores dos órgãos de segurança e afirma que já viu policiais que só passaram a se entender enquanto pessoas negras depois das aulas.

pessoas ouvindo palestra sobre racismo
Legenda: Tentativas dos órgãos de segurança para diminuir a reprodução do racismo.
Foto: Divulgação/SUPESP

A capitã da Polícia Militar do Ceará, Dayane Teixeira Rodrigues, participou como aluna de um letramento racial promovido pela Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE). Ela conta que a turma estudou a parte histórica relacionada ao racismo estrutural, desde a época da escravidão até os dias atuais. O curso também abordou a situação das religiões de matriz africana e a questão da branquitude.

Para a policial, o racismo não existe somente na Polícia, mas na sociedade como um todo. O problema, segundo ela, é que os órgãos de segurança são um recorte da sociedade, então reproduzem os preconceitos.

Dayane afirma ainda que essa questão é estrutural e permeia relações sociais e de segurança de trabalho. Na opinião dela, os cursos servem para os agentes de segurança ficarem mais atentos em momentos como uma abordagem policial.

No início, eu pensava que sabia [sobre o tema]. Quando eu fui estudar, eu vi que eu tinha um conhecimento muito superficial da coisa. Muito empírico.
Dayane Teixeira

A policial militar e orientadora da Célula de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública, Extensão e Inovação Acadêmica da Aesp/CE, Weslany Verônica, organiza cursos e materiais sobre a temática racial para os trabalhadores dos órgãos de segurança pública estaduais e municipais. Segundo ela, a recepção e a adesão aos cursos são muito positivas.

Além disso, a Aesp/CE inaugurou, em novembro deste ano, a Estante Preta Tia Simoa na biblioteca da instituição. O espaço reúne livros sobre antirracismo. A estante é aberta para o público em geral e especialmente para os servidores da área da Segurança Pública.

aesp representantes em frente a estante aberta ao publico.
Legenda: A estante é aberta para o público em geral e especialmente para os servidores da área da segurança pública.
Foto: Divulgação/AESP-CE.

Eu espero que a gente consiga alcançar a cultura de paz. Eu sei que tem muito trabalho pela frente, mas eu acredito que, com a educação, a gente consegue qualquer coisa.
Weslany Verônica

O que é ser negro no Brasil?

Durante os anos 1970 e 1980, o Movimento Negro Unificado ganhou força e disseminou a ideia de que as pessoas pretas, no Brasil, vivem circunstâncias derivadas do racismo muito parecidas com as pessoas pardas. Então, foi criada a categoria "negro", para unir essa população.

O Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em 2010, considera todas as pessoas pretas e pardas como negras. No entanto, uma pesquisa de novembro de 2024 do Datafolha mostrou que 60% dos pardos não se dizem negros. Já entre os que se declaram pretos, o número cai para apenas 4%.

 A ideia de pardo foi usada, muitas vezes, por pessoas que não eram retintas, mas eram colocadas, ou se colocavam, nessa posição para fugir do estigma de ser negro.
Isaac Santos

Segundo os dados da SAP, dentro da população carcerária do Ceará, 16.508 pessoas se autodeclaram pardas e apenas 2.156 se dizem pretas.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda permanece com as opções de identificação "pardo" e "preto", mas, na contagem final, essas pessoas aparecem juntas na categoria "negros".

Veja a divisão por raça das pessoas encarceradas no Ceará e a situação das prisões

Em prisão provisória:

  • Pardos - 7.644
  • Pretos - 889
  • Brancos - 1272
  • Indígenas - 11
  • Amarelos - 25
  • Não informaram - 11

Total: 9.852

Em regime fechado/condenados:

  • Pardos - 8864
  • Pretos - 1267
  • Brancos - 1348
  • Indígenas - 19
  • Amarelos - 68
  • Não informaram - 39

Total: 11.605

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Cariri Ativo

01.12.2025