Por Marcela Tosi
O retorno às aulas presenciais tem sido um debate complexo há mais de um ano no Ceará. Interrompido em 19 de março, o cotidiano dentro das salas de aula voltou na rede privada, mas segue suspenso nas escolas públicas — apesar da liberação formal do Governo. Ações judiciais, manifestações de pais e pressão para vacinar trabalhadores da Educação marcam as tentativas de retomada.
"Eu gostaria de voltar, porque é tudo mais fácil vendo os alunos e interagindo. Muitos pais também querem a volta, mas a gente precisa de segurança e ainda não temos", aponta uma professora da rede municipal de Fortaleza que ensina no 1º e 2º ano do Ensino Fundamental e que prefere não se identificar. Ela menciona que os docentes que não tiveram apoio da gestão municipal para aprender a dar aulas remotas. "Passamos quase um ano sem formação continuada e agora que voltou, ela está muito fora da nossa necessidade. Precisamos de outras leituras e suportes para conseguirmos de fato chegar nos alunos."
"As escolas públicas têm realidades diferentes. Vai de escolas grandes, com salas amplas e muitos ambientes abertos a escolas pequenas, mais antigas, mais quentes, sem ventilação. A realidade é bem difícil, poucos funcionários, poucos materiais de higiene e de limpeza", acrescenta. "Eu me sinto insegura com como será o escalonamento e se vai ser respeitado, quantas crianças por turma, quem vai dar aula presencial, quem vai dar aula remota, se vai ter infraestrutura e funcionários para garantir os protocolos,,.", enumera.
Cibele Chagas Mendes, professora em escolas públicas e particulares há 28 anos, lamenta o retorno apenas da rede privada. "Estamos aumentando o abismo entre os ensinos, que já eram desiguais. Não no sentido de qualidade e capacidade dos professores, mas no contexto geral do sistema", aponta. Ela afirma que se sentiria mais segura se as escolas públicas tivessem investimento. "Houve tempo de sobra; conseguiram equipar um hospital em 7 dias, por que não uma escola em 15 meses?"
Desde essa segunda-feira, 14 de junho, com exceção do Cariri, a rede particular cearense tem permissão para aulas presenciais em todos os níveis e adota o sistema híbrido. Já na rede pública, estudantes esperam a possibilidade de um retorno.
Por nota, a Secretaria da Educação (Seduc), responsável pelo Ensino Médio, projeta que “com o andamento da vacinação dos profissionais da Educação conforme o planejado, isso deve ocorrer no segundo semestre deste ano”. De acordo com a pasta, o primeiro semestre letivo de 2021 será concluído ainda neste mês na modalidade remota. Tablets seguem sendo distribuídos para os estudantes e foi aberta seleção de professores para atuarem em ações de apoio ao ensino híbrido.
A secretaria garante que “vem realizando a manutenção da sua rede” para o retorno de forma segura e que as escolas “têm autonomia para a realização de adaptações” e compra de materiais de higiene necessários. “A Secretaria adquiriu equipamentos de proteção individual (EPIs) para alunos, professores e demais profissionais da escola. Entre os itens estão termômetros, mochilas pulverizadoras para desinfecção dos ambientes e o kit professor, composto de máscaras e protetores faciais (face shield)”, conclui.
Em Fortaleza, estudantes de todos os níveis de formação ainda não retornaram. A Secretaria Municipal da Educação (SME) informa que todas as 581 unidades escolares municipais passaram por adaptação da estrutura que inclui, por exemplo, instalação de lavatórios e abertura de passagem e melhor circulação de ar. “Do total, 538 já estão aptas a receber os alunos e profissionais”, afirma. As demais 43 escolas fazem parte do pacote de requalificação da Rede Municipal e passam, atualmente, por intervenções estruturais mais complexas, as quais devem ser concluídas até agosto.
O órgão municipal aponta ainda que “foram adquiridos, ou estão em fase de aquisição e recebimento, os Equipamentos de Proteção Individual necessários para alunos e profissionais da Educação”. Os kits incluem máscara de tecido, avental, touca, sapatilha, termômetro, álcool gel e os dispositivos para uso, álcool 70%, sabonete líquido, água sanitária e garrafas squeeze para uso individual dos estudantes.
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opovo.com.br
15.06.2021