Legenda: Cartas serão analisadas por pesquisadoresFoto: AFPRecados foram escritos para marinheiros que lutavam em guerra contra a Inglaterra.
Em outra carta, a mãe de um jovem marinheiro, chamado Nicolas Quesnel, reclamava sobre as poucas tentativas de contato feitas pelo filho.
IMPORTÂNCIA HISTÓRICA
Além de revelarem fragmentos da história dos marinheiros, os recados também expõem informações interessantes sobre a sociedade francesa daquela época, conforme explica o professor.
“Temos realmente uma grande variedade de autores, e enfatizo autoras porque a maioria das cartas é escrita por mulheres. E isso é ainda mais raro quando você olha para pessoas de posição social desprivilegiada. É muito mais comum encontrar cartas escritas por aristocratas ou burgueses do que cartas escritas por marinheiros e principalmente por mulheres”, disse Morieux.
O historiador ainda ressaltou a importância das cartas, já que elas demonstram experiências humanas universais, que não se limitam à França ou ao século XVIII.
VEJA TRECHO DAS CARTAS
Conforme a Universidade de Cambridge, uma das cartas mais marcantes foi enviada pelo jovem marinheiro, Nicolas Quesnel, de Normandia. Em 27 de janeiro de 1758, Marguerite, de 61 anos, mãe do jovem, era analfabeta e pediu para alguém escrever uma reclamação ao filho.
"No primeiro dia do ano [ou seja, 1º de janeiro] você escreveu para sua noiva […]. Eu penso mais em você do que você em mim. […] Em qualquer caso, desejo-lhes um feliz ano novo repleto de bênçãos do Senhor. Acho que estou perto de morrer, estou doente há três semanas. Dê os meus cumprimentos a Varin [um companheiro de bordo], é apenas a sua esposa que me dá as suas notícias", dizia a carta.

Algumas semanas depois, a noiva de Nicolas, Marianne, pediu para ele escrever para sua mãe e que fosse um bom filho. Além de pedir para que ele pare de colocá-la em situações constrangedoras. Ela escreveu: "o mais difícil que possa ser, uma carta que sua mãe receba de você, irá iluminar atmosfera dela".
Marguerite também escreveu para Nicolas novamente em 7 de março de 1758. "Em suas cartas, você nunca menciona seu pai. Isso me machuca bastante. Próxima vez que você escrever para mim, por favor, não esqueça de seu pai", escreveu.
Morieux depois descobriu que esse homem se tratava de seu padrasto, que ele não o considerava como uma figura paterna.
Outra carta marcante foi escrita por Marie Dubosc para seu marido, Louis Chambrelan, o primeiro-tenente de Galatée, um navio de guerra francês. Ela não sabia onde ele estava ou que seu navio havia sido capturado pelos britânicos.
"Eu poderia passar a noite escrevendo para você. Eu sou para sempre grata de ser sua esposa. Boa noite, meu querido amigo. É meia noite Eu acho que é hora de dormir”, escreveu.
Louis nunca recebeu essa carta da esposa e eles nunca se reencontraram.

Anne Le Cerf, escreveu para seu marido, Jean Topsent: "mal posso esperar para estar com você". Ele era um oficial também de Galantée. Ela poderia ter escrito que queria "abraçá-lo" ou ter relações sexuais com ele. Ela assinou a carta como "sua obediente esposa Nanette".


