Casamento infantil: aos 12 anos, garota foi vendida por R$ 40 ao marido - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
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Casamento infantil: aos 12 anos, garota foi vendida por R$ 40 ao marido

Casamento infantil: aos 12 anos, garota foi vendida por R$ 40 ao marido

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Segundo a ONU, em todo o mundo, complicações da gestação e nascimento de crianças são a principal causa de morte de meninas entre 15 e 19 anos. Crédito: YOUSEF ELDIN/BBC
Tamara foi vendida pela avó para um homem com quase o dobro da sua idade e, em seguida, foi abandonada grávida

Autor Cotidiano O POVO

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente, 650 milhões de meninas e mulheres no mundo casaram-se ou entraram em união informal antes de completar 18 anos. Tamara (nome fictício) está nesta estatística. Aos 12 anos, ela foi vendida pela avó para um homem com quase o dobro da sua idade e, em seguida, abandonada grávida.

Mesmo em nações que têm leis contra o casamento infantil, ainda é comum existir dificuldades na sua aplicação efetiva.Apesar de o Malauí, no sudeste da África onde Tamara vive, apresentar sinais de mudança, a menina continua entre as jovens que tiveram sua infância prejudicada pelo casamento forçado.

Avó da menina negociou o casamento

A reportagem da BBC conta que, após um mês de falecimento dos pais da menina, a avó insistiu que ela deveria casar. Assim, negociou o matrimônio da neta após receber uma quantia em dinheiro.

Tamara foi vendida para um desconhecido por 15.000 kwachas malauianos, o equivalente a cerca de R$ 43,00. A avó de Tamara já havia utilizado o dinheiro para comprar milho para a família. O homem estava impaciente, desejando que a garota abandonasse logo a escola e fosse morar com ele.

Ela então foi levada, violentada e abandonada grávida de 9 meses pelo marido após a assistência social ser acionada.

Casamento infantil: prática é culturalmente aceita apesar de proibida por lei

Apesar de ser ilegal no Maláui desde 2017, o casamento infantil persiste em comunidades rurais, como a de Tamara, onde aproximadamente quase toda a população do país reside.

"A vida era difícil porque o homem era mais velho", disse Tamara em entrevista para a BBC. "Ele costumava abusar de mim fisicamente, me mordendo toda vez que fazia algo errado."

Algumas semanas depois, durante os preparativos para o retorno de Tamara à escola, ela notou que sua menstruação estava atrasada. Aos 12 anos, Tamara descobriu que estava grávida. Atualmente o bebê já nasceu. Uma ONG do Maláui, providenciou um homem com uma bicicleta para levá-la até a clínica de saúde local quando ela entrou em trabalho de parto.

À BBC, Tamara expressa a esperança de que seu filho, Prince, consiga completar a escola. Ela também possui apoio da sua comunidade e da sua tia que possui uma barraca de frutas e verduras.

Iniciativas contra o casamento infantil

Após uma recente visita da ex-primeira-dama Michelle Obama, da advogada de direitos humanos Amal Clooney e da filantropa Melinda French Gates ao Maláui, o presidente Lazarus Chakwera anunciou um aumento no financiamento para a estratégia nacional de combate ao casamento infantil.

As três influentes ativistas também estão envolvidas em ações no país, oferecendo suporte a organizações locais dedicadas à luta contra o casamento infantil. A iniciativa Waging Justice for Women de Amal Clooney, por exemplo, está colaborando com a Associação de Mulheres Advogadas do Maláui para ajudar na conscientização das meninas nas áreas rurais sobre seus direitos.

As organizações não governamentais afirmam que ainda é raro que os serviços sociais intervenham em casos de casamento infantil. No entanto, observa-se uma mudança na abordagem dos líderes locais.

Luta pelo acesso à educação para meninas

Um programa de rádio semanal patrocinado pela ONG AGE Africa atinge mais de 4 milhões de ouvintes em todo o Malauí. O programa se chama "Ticheze Atsikana", uma expressão em Chichewa, língua falada no Malauí. Traduzida de forma mais literal, significa "Meninas, joguem".

A expressão pode ser uma referência a atividades ou iniciativas destinadas a envolver, educar ou apoiar meninas em diversas áreas, como esportes, educação ou empoderamento. Durante a transmissão, garotas jovens comentam sobre pautas importantes como o casamento infantil e buscam assim conscientizar as ouvintes que estão acompanhando.

"Quando as meninas recebem educação e conhecem os seus direitos, sabem que podem obter ajuda para acabar com o casamento infantil. Isso faz parte da nossa missão, fazer com que elas falem, compartilhem as suas histórias e saibam que existem outros caminhos", afirma Lucy Morris, uma das apresentadoras, à BBC.

opovo.com.br

Cariri Ativo

03.01.2024