Entidade alerta contra campanha que liga a região à exploração e abuso sexual
O Observatório do Marajó, entidade voltada à viabilização de políticas públicas no arquipélago paraense, manifestou um alerta contra a campanha que liga a região à exploração e à violação sexual de crianças e adolescentes. Em nota pública divulgada na tarde desta quinta-feira (22), a ONG explica que há redes criminosas em todo o país, não sendo exclusividade da ilha.
“A população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara. Para proteger as crianças da violência, o caminho é o fortalecimento do sistema de proteção e garantia de direitos das crianças e dos adolescentes”, aponta o comunicado intitulado de “Não acredite em tudo o que vês na internet”.
Inicialmente, a campanha ganhou repercussão com a senadora Damares Alves (Republicanos), então titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Em 2022, a parlamentar disse que ouviu "nas ruas" relatos sobre estupro e tráfico de crianças no Marajó. A ex-ministra, no entanto, não apresentou provas das denúncias.
O movimento voltou a receber o apoio de famosos depois que a cantora gospel paraense Aymeê lançou a música "Evangelho de Fariseus", que cita diretamente o arquipélago paraense e supostas violações de direitos humanos.
Nomes como Rafa Kalimann, Thaila Ayala, Gkay, Luisa Sonza, Ludmilla, Gabi Martins, MC Daniel fizeram publicações cobrando autoridades locais sobre o combate aos crimes. As postagens não detalham um caso ou apresentam dados oficiais.
“Enquanto ministra de Estado, Damares Alves não destinou os recursos milionários que por diversas vezes prometeu para a região, para fortalecer comunidades escolares. Ao invés disso, atentou contra a honra da população diversas vezes, espalhando mentiras, e abriu tais políticas públicas para grupos privados de São Paulo que defendem a privatização da educação pública”, relata o texto do Observatório do Marajó.
RELEMBRE O CASO
Em 2022, a ex-ministra Damares afirmou que o Ministério tinha descoberto um esquema de tráfico de crianças no arquipélago, durante discurso em um culto da Assembleia de Deus, em Goiânia. Segundo ela, as crianças traficadas seriam submetidas a mutilações corporais e regimes alimentares para facilitar abusos sexuais.
Na época, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou, em nota, que "nos últimos 30 anos, nenhuma denúncia ao MPF sobre tráfico de crianças no Marajó mencionou as torturas citadas por Damares".
Após a repercussão do caso, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) determinou que o Ministério informasse detalhadamente todos os casos de denúncias recebidas pela pasta entre 2016 e 2022.
De acordo com análise do jornal Estadão, os relatórios que foram apresentados pela ex-ministra para buscar comprovar as denúncias não continham provas do caso. O veículo verificou o documento de 2.093 páginas dos relatórios de três CPIs enviados pela assessoria de Damares, e diz não ter encontrado os fatos que ela alegou terem ocorrido na Ilha de Marajó.
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Cariri Ativo
23.02.2024