Região
está entre os três núcleos do Estado com níveis mais críticos em relação ao
fenômeno que atinge o solo cearense. Um ciclo de palestras foi realizado pela
Funceme em alusão ao Dia Mundial de Combate à Desertificação nesta
segunda-feira, 17
Autor Mirla Nobre
Uma área de cinco hectares na região
do Jaguaribe, no Ceará,
foi recuperada após ser degradada por causa do fenômeno de desertificação. A localidade está
entre as três regiões do Estado com os níveis mais críticos do fenômeno. O
cenário é resultado de um projeto da Fundação Cearense de Meteorologia e
Recursos Hídricos (Funceme), que teve início em 2014, para recuperar áreas
degradadas em virtude do processo.
As informações foram
divulgadas pela Funceme durante o evento “Terras Secas – Um olhar sobre a
desertificação no Ceará”, realizado nesta segunda-feira, 17, e que segue até
esta terça-feira, 18. As atividades fazem alusão ao Dia Mundial de Combate à Desertificação,
celebrado hoje. O encontro teve um ciclo de palestras sobre o tema com
pesquisadores da Funceme, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Instituto
de Pesquisa e Desenvolvimento (IRD), da França.
As
intervenções em Jaguaribe foram iniciadas há dez anos após a região ser
escolhida como objeto de estudo no projeto da instituição. Para a escolha, foi
realizado, inicialmente, um mapeamento que identificou as regiões com
níveis mais graves pelo fenômeno no Estado. A partir da contribuição de
moradores da região, Jaguaribe, na localidade do Brum, a localidade foi
escolhida para ser alvo das ações pelos técnicos da Funceme.
Na época, a região não
tinha vegetação viva. “O solo estava todo exposto e nós começamos a aplicar
práticas de manejo do solo para tentar fazer com que essa vegetação se
recuperasse. A gente fez técnicas de barragens de pedras para conter sedimentos
que vinha a montante, aplicamos serapilheira no solo junto com matéria orgânica
e fizemos terraços para barrar a água”, disse a pesquisadora da Funceme Juliana
Vieira.
Ainda segundo a
pesquisadora, 11% do território
cearense está degradado pela desertificação. A doutora em solo
explica que o fenômeno é um processo de degradação das terras em ambientes
áridos, semiáridos e subúmidos secos, sendo uma condição natural, mas agravada
pelas ações humanas, onde, segundo Juliana, tem como principal fator agravante
as queimadas.
“Ela [desertificação]
ocorre por meio da erosão, como áreas que são desmatadas ficam suscetíveis à
erosão, manejo inadequado do solo, queimadas, uso indevido de fertilizantes. O
Ceará, por estar inserido em toda uma zona semiárida, possui 97% do seu território
suscetível à desertificação”, afirma a doutora em solo e pesquisadora da
Funceme.
De acordo com a
Funceme, o município, localizado a 293,5 quilômetros de Fortaleza, possui 24%
do seu território em processo de desertificação, ou seja, ainda em
degradação. A área do estudo, no entanto, foi totalmente recuperada.
A expectativa é que, a
partir desse projeto piloto, mais ações sejam realizadas em outras localidades
no Estado, principalmente as que possuem níveis mais críticos quanto ao
fenômeno. Ainda não há previsão qual a próxima região a receber as ações de
recuperação pela Funceme.
No Estado, três
regiões registram níveis de ocorrência muito graves quanto à desertificação.
São elas Irauçuba, no Centro Norte do Estado, que abriga os municípios de Canindé, Irauçuba, Miraíma e Santa Quitéria; Sertão
de Inhamuns, que contempla os municípios de Arneiroz, Independência e Tauá; e Médio
Jaguaribe, região dos municípios de Jaguaretama, Jaguaribe, Alto Santo e Morada Nova.
A doutora em Geografia
e professora na Universidade Federal do Ceará (UFC), Vládia Pinto, afirma que é
necessário um acompanhamento das áreas recuperadas para garantir o resultado.
“É preciso uma política de monitoramento para continuar o trabalho que foi
feito. Não podemos falar que uma área foi recuperada, ela está sempre em
processo de recuperação”, orienta.
Ciclo de palestras debate fenômeno,
causas e formas de combate
O ciclo de palestras
realizadas na sede da Funceme, em Fortaleza, na manhã desta segunda-feira, 17,
debateu o fenômeno da desertificação no Ceará, as causas e as formas de
combate. Além de pesquisadores, o encontro reuniu professores e estudantes para
compartilhar mais informações sobre o tema.
Segundo o pesquisador
da Funceme e especialista em Ciência do Solo, Rafael Cipriano destaca que o
objetivo do encontro é juntar informações sobre o tema para entender o
fenômeno, as causas que aceleram o processo e, principalmente, quais as formas
de combate.
“Todas as palestras
foram pensadas nas perspectivas futuras. A participação de diferentes atores é
bom para alinhar o conhecimento para que todos tenham as mesmas informações e a
troca de experiências”, pontua.
Entre os temas, o
desafio das mudanças globais e a desertificação, Salinização de solos,
Desertificação no Ceará, O papel do microbioma do solo no combate ao fenômeno,
Ações da Funceme no combate à desertificação. Na programação desta terça-feira,
18, o instituto promove a exibição de um documentário sobre a experiência com o
fenômeno, que será exibido no Museu da Imagem e do Som (MIS) para convidados.
opovo.com.br
Cariri Ativo
18.06.2024