Autor Fabrícia Braga
Pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) aponta que anti-inflamatórios são capazes de reduzir sintomas em quadros de ansiedade e depressão resistentes.
A depressão, uma das condições de saúde mental mais debilitantes, afeta cerca de 5% da população brasileira, sendo marcada por sintomas como tristeza profunda, apatia, fadiga e perda de interesse em atividades rotineiras.
O Brasil, atualmente, apresenta o maior número de casos na América Latina, de acordo com o relatório "Depressão e outros transtornos mentais", publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para uma parcela dos pacientes, aproximadamente 30%, o tratamento da depressão é ainda mais desafiador, devido ao quadro conhecido como depressão refratária ou resistente, onde os sintomas persistem mesmo com o uso de medicamentos convencionais.
Novas abordagens terapêuticas
Esse cenário tem mobilizado pesquisadores da UFC, que estão investigando novas abordagens terapêuticas para esses casos.
De acordo com a UFC, uma hipótese que ganha força é a relação entre depressão e inflamação crônica, observada em pacientes com altos níveis de marcadores inflamatórios.
Com base nisso, cientistas do Laboratório de Neuropsicofarmacologia da UFC decidiram explorar o potencial de medicamentos anti-inflamatórios, como o celecoxibe e o etoricoxibe, no tratamento da depressão resistente.
Esses fármacos, utilizados para condições inflamatórias como artrite e osteoartrite, foram testados em modelos experimentais sob a coordenação do farmacêutico Daniel Moreira e orientação da professora Cléa Florenço.
Testes com camundongos
Os experimentos foram realizados no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da UFC (NPDM). Nos testes, camundongos foram induzidos a desenvolver comportamentos associados à depressão, seguidos de tratamento com doses controladas de anti-inflamatórios, minimizando riscos cardiovasculares.
Após cinco dias, análises detalhadas em áreas como o hipocampo e o córtex pré-frontal revelaram efeitos promissores: os medicamentos conseguiram reverter alterações comportamentais e reduzir marcadores de inflamação e estresse oxidativo, além de fortalecer as defesas antioxidantes no sistema nervoso central.
“A partir do nosso estudo, foi possível observar uma importante ação do celecoxibe na redução de comportamentos depressivos, ao passo que o etoricoxibe apresentou potencial antidepressivo ao reduzir citocinas pró-inflamatórias no sistema nervoso central. Estes resultados promissores, ao usarem medicamentos já disponíveis e alinharem-se à hipótese inflamatória da depressão, trazem um caráter inovador ao estudo” explica a professora Cléa Florenço.
opovo.com.br
Cariri Ativo
31.10.2024