Autor David Andrade
Dentre os feriados comemorados a cada ano, o Natal é um dos mais significativos e um dos mais aguardados em boa parte do mundo, especialmente no ocidente. Confraternizações, troca de presentes, luzes e enfeites marcam a data, que para os Cristãos também é um momento de celebrar o nascimento de Jesus Cristo.
A celebração de Cristo neste período do ano ocorre há mais de 1.500 anos, mas, afinal, por que celebramos o Natal no fim do ano? Jesus de fato nasceu em 25 de dezembro? Confira o texto abaixo e entenda melhor os mistérios dessa data.
Festa de Natal pode ter se originado a partir de uma celebração romana
Conhecida como "o melhor dos dias", a Saturnália era uma das festas mais populares do Império Romano. Ela era dedicada ao deus Saturno, divindade associada à renovação, à prosperidade e à agricultura.
Durante a celebração, realizavam-se grandes banquetes abertos ao público, trocas de presentes e um conjunto de festividades que remetem ao que hoje conhecemos como Carnaval. A Saturnália integrava todas as camadas da sociedade romana, incluindo tanto os senhores quanto os escravizados.
As comemorações da Saturnália se iniciavam no dia 17 do mês de "decembris", que originou o atual "dezembro", e duravam pelos 7 dias seguintes, até o dia 24 do mesmo mês.
Como preparação para o grande evento do fim do calendário romano, as casas eram decoradas com folhagens, ramos, guirlandas e velas. Ao fim do festejo, ocorria a "Sigillaria", onde os populares trocavam presentes entre si.
O fim da Saturnália coincide com a adoção do Natal como festa principal de Roma
Até por volta do século 2 depois de Cristo, não era comum a celebração do nascimento de Jesus de Nazaré e ainda menos a associação do nascimento ao mês de dezembro. Na realidade, de acordo com estudos do filósofo e teólogo Clemente de Alexandria (150-215), acredita-se que Cristo teria nascido entre os meses de março e maio.
A escolha do dia 25 de dezembro como data oficial da celebração do Natal partiu da Igreja Católica. No ano 350, o papa Júlio I determinou que as festas do nascimento do dito "Emanuel" ocorressem ao final do mês de dezembro. Assim, enquanto os romanos comemoravam a Saturnália, os novos cristãos celebravam o Natal.
Cerca de 30 anos depois, em 27 de fevereiro de 380, o imperador Teodósio publica o documento conhecido como Édito de Tessalônica. A declaração enfim reconhecia o cristianismo como a religião oficial de Roma.
O decreto, além dos atos mencionados anteriormente, condenava todo tipo de ato considerado pagão ou herético, punindo até com a perda de direitos civis todos que não professassem o cristianismo como sua religião.
Afinal, Jesus realmente nasceu dia 25 de dezembro para comemorarmos o Natal neste dia?
A resposta mais simples é: não se sabe.
Ainda segundo o teólogo, a associação do nascimento de Jesus ao dia 25 de dezembro, bem como a atribuição a qualquer outro dia do ano, é "apenas especulação". Tiago completa que os textos sagrados do cristianismo, sim, empreendem esforços para situar o advento de Cristo dentro da história.
Relatos do Novo Testamento situam o nascimento de Jesus na história do mundo
Dos quatro evangelhos presentes no Novo Testamento, o nascimento do dito "Infante de Belém" são relatados apenas nos livros de Mateus e Lucas.
Os escritos de Marcos apenas mencionam que Cristo nasceu anos antes da morte do rei Herodes, o Grande, que ocorreu no ano 4 a.C. Já o livro de João, por sua vez, começa o relato pelo batismo de Jesus por João Batista, não citando eventos anteriores a este na vida do chamado "Messias".
Ainda que Mateus e Lucas narrem os acontecimentos desde a anunciação do anjo à Maria e José e o subsequente nascimento de Jesus, os autores dos evangelhos não dão pistas, dicas e nenhuma outra informação sobre a época do ano em que Cristo nasceu.
Lucas nunca chegou a conhecer Jesus pessoalmente, tenho adquirido conhecimentos a respeito do "Messias" através das pregações dos apóstolos, tendo sido discípulo de São Paulo. Porém, é Lucas que mais dá detalhes das circunstâncias da época.
Segundo o evangelista, todos os pormenores por ele registrados foram transmitidos pelos que "presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra" (Lucas 1:2). Um dos eventos relatados por Lucas é o Censo de Quirino.
Censo realizado por governador romano pode nos ajudar a entender a época do nascimento de Jesus
De acordo com o historiador James Edward Talmage (1862 - 1933), no livro "Jesus, o Cristo", Maria e José residiam na cidade de Nazaré, cerca de 103 km ao norte de Jerusalém. Na época da gravidez de Maria, ocorreu o determinado censo descrito pelo evangelista Lucas.
O costume judaico para as épocas de recenseamento determinava que a contagem populacional deveria ser feita a partir da cidade de origem do patriarca de cada família. Ou seja, os pais de Jesus precisaram ir para o local de nascimento dos antepassados de José para enfim participarem do censo.
A dita cidade era Belém, localizada a cerca de 112 km distante de Nazaré. Lá, Jesus nasceu.
O já referenciado censo, conhecido como "Censo de Quirino" teria ocorrido por volta do ano de 754 AUC (sigla em latim que significa "ab urbe condite", ou "depois da fundação da cidade [de Roma]", em tradução livre para o português).
Tanto o Censo de Quirino, como a morte de Herodes, são mencionados no Novo Testamento.
Sobre a época do ano do nascimento de Jesus, não há provas para que tal fato tenho ocorrido precisamente em dezembro.
O teólogo Tiago Albuquerque relata que existem argumentos que podem indicar que o nascimento de Cristo ocorreu em alguma estação intermediária, como o outono ou a primavera.
Tiago Albuquerque
Mas por que o dia 25 de dezembro foi escolhido como data do nascimento de Jesus?
O historiador espanhol Javier Alonso, em entrevista à BBC, declara que o dia 25 de dezembro se tornou a data ideal para se comemorar o nascimento de Cristo graças ao significado que a efeméride tinha para os romanos.
Não era comum dos antigos hebreus a celebração de festas de aniversário. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo (37 - 100), estas comemorações eram consideradas tabus pelos primeiros cristãos convertidos, uma vez que a lei judaica não permitia que pais organizassem festas de nascimento dos filhos.
Em contrapartida, a comemoração dos aniversários era quase que uma obrigação para os romanos. Anualmente, sacrifícios eram realizados em memória do nascimento do imperador Júlio César.
Além da Saturnália, havia também a festa do "Sol Invictus" (Sol Invencível), que celebrava, no dia 25 de dezembro, a renovação do Rei Sol e estava ligada ao início do solstício de inverno no hemisfério norte, como contou Tiago Albuquerque em entrevista ao O POVO.
Tiago completa que cristãos ao redor do mundo reconhecem que a data em que o Natal é comemorado pode ter conexão com os feriados pagãos do Império Romano. Apesar das ligações indiretas, o Natal cristão, a Saturnália e a festa do Sol Invencível não são, nunca foram e nunca serão o mesmo feriado.
Ao O POVO, Tiago Albuquerque explica que o Novo Testamento não dá grande destaque ao nascimento de Cristo.
Esse dado é corroborado pelo historiador espanhol António Piñero, que afirmou em entrevista à BBC que o advento de Cristo não era particularmente relevante para a Igreja primitiva.
Para os primeiros cristãos, o cerne da vida de Jesus estava em sua mensagem e na ressurreição, vista como o sacrifício para a redenção dos pecados da humanidade. Todo o restante seria considerado "decorativo"
Tiago completa que a a forma com que Jesus nasceu é que deve ter destaque pois este evento cumpre profecias feitas durante o Antigo Testamento e que são sagradas para adeptos das religiões abraâmicas.
"O dia exato [do nascimento de Jesus] não partilha da mesma importância de outros eventos da vida dele, como sua morte e ressurreição, pois foi o que ele desejou que fosse lembrado", finaliza Tiago.
opovo.com.br
Cariri Ativo
24.12.2024