Açudes do CE sangram após chuvas, mudam paisagem seca e atraem visitantes de cidades próximas; veja imagens - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
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Açudes do CE sangram após chuvas, mudam paisagem seca e atraem visitantes de cidades próximas; veja imagens

Açudes do CE sangram após chuvas, mudam paisagem seca e atraem visitantes de cidades próximas; veja imagens

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Legenda: Todos os dias, parte da população se desloca até os açudes para tomar banho, brincar ou simplesmente observar a sangria, espetáculo tão esperado
Foto: Davi Rocha

Reservatórios antigos movimentam lazer e economia de pequenas comunidades.


Escrito por
Nícolas Paulinonicolas.paulino@svm.com.br


É clima de festa. Após meses de uma paisagem árida e sem água, açudes do Ceará começaram a sangrar como efeito das fortes chuvas que começaram a atingir o Estado mais cedo. Em vez de março ou abril, meses que marcam o período mais expressivo da quadra chuvosa, eles começaram a transbordar mais cedo, ainda em janeiro.

Nesta quarta-feira (29), 10 açudes estão sangrando no Ceará, conforme monitoramento do Portal Hidrológico da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). A maioria deles fica na região Norte do Estado. Outros três já acumulam acima de 90% da capacidade.

Na última semana, o Diário do Nordeste percorreu quatro cidades da área para acompanhar a mudança de cenário trazida pelas chuvas. É, sim, clima de festa no interior. Todos os dias, parte da população se desloca até os reservatórios para tomar banho, brincar ou simplesmente observar o espetáculo tão esperado.

São Pedro Timbaúba, em Miraíma, começou a sangrar por volta do dia 15 de janeiro. Superando os 15,7 milhões de m³, ele formou uma estrada de água no sangradouro do açude, conectando dois lados da cidade. No meio, adultos mergulhavam e jovens faziam “mortais” para cair em piscinas. 

Banhistas no açude São Pedro Timbaúba, no Ceará
Legenda: Açude São Pedro Timbaúba, em Miraíma, no Ceará, começou a sangrar por volta do dia 15 de janeiro
Foto: Davi Rocha

O açude sangrado trouxe ainda mais significado ao nome da localidade: Campo Alegre. A dona de casa Ciça Cleide, que nasceu por lá há 57 anos e ainda hoje mora ao lado da barragem, observa animada toda a movimentação - a nona consecutiva do reservatório centenário, concluído em 1916 para barrar as águas do riacho Bom Jesus, afluente do Rio Aracatiaçu.

“É lazer não só pro pessoal daqui, mas o pessoal de fora que vem também”, afirma. Diversão tranquila, assegura ela, porque o último inverno com danos mesmo foi em 2009. “A água entrou nas casas, o pessoal perdeu as coisas, teve que ir morar na escola. Foi a enchente maior que eu já vi: o pessoal passava por cima da ponte e lavava os pés”, lembra. 

Criança salta no sangradouro do açude São Pedro Timbaúba
Legenda: Açude São Pedro Timbaúba se tornou atração para crianças durante sangria
Foto: Davi Rocha

A churrasqueira Leila Batista também comemora o incremento na renda nesse período. “Domingo é lotado, a gente vende espetinho com baião. Fica lotado porque colocam paredão”. 

Banho e pescaria

Açude Forquilha, no interior do Ceará
Legenda: Açude Forquilha abastece a sede municipal, além de comunidades no entorno e indústrias próximas
Foto: Davi Rocha

A 62 km dali, dois irmãos da região do Acaraú sangram ao mesmo tempo: o Forquilha, na zona urbana da cidade de mesmo nome, e o Arrebita, na zona rural. O Forquilha, concluído em 1928, passou dos 50,1 milhões de m³ pelo terceiro ano seguido. Ele abastece a sede municipal, além de comunidades no entorno e indústrias próximas.

O forquilhense Pedro Lima recorda bem o dia da sangria: “depois da chuva de 200 mm”. Depois disso, sábados e domingos, e até dias de semana, se tornaram lotação de visitantes. “Antigamente, aqui só tinham barracas de madeira, agora tem tenda”, percebe. Em breve, também deve ser inaugurado um balneário ao lado do açude.

Açude Forquilha sangrando
Legenda: Açude Forquilha, concluído em 1928, passou dos 50,1 milhões de m³ pelo terceiro ano seguido
Foto: Davi Rocha

Um detalhe que chama atenção no local são duas traves metálicas com as bases cobertas pela água. Segundo Pedro, alguns anos atrás, o terreno agora inundado era um campinho de futebol. Hoje, as partidas disputadas entre distritos e outras cidades se tornaram inviáveis.

Esse detalhe tem paralelo com a própria criação do açude: segundo o memorial do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), para construí-lo, foi preciso desocupar o povoado de Campo Novo. Em tempos de estiagem, ainda é possível identificar ruínas da antiga comunidade, como parte do cruzeiro que ficava no entorno da igreja e da edificação do antigo cemitério local.

Régua mede nível do Açude Arrebita, no interior do Ceará
Legenda: Açude Arrebita, "irmão" do Açude Forquilha, é um dos que sangram no Ceará no início de 2025
Foto: Davi Rocha

Já o Arrebita, construído em 1992, ultrapassou os 18,5 milhões de m³ e também sangrou pelo terceiro ano consecutivo. Ele acumula águas do riacho Sabonete e foi projetado para abastecer o distrito de Trapiá.

Passagem molhada

Pessoas sentadas à beira de açude no interior do Ceará
Legenda: Passagem molhada no Açude Patos, em Sobral, no Ceará
Foto: Davi Rocha

A comunidade do distrito de Patos, em Sobral, também celebra cada sangria. É que o Patos - açude construído em 1921 para barrar o Aracatiaçu - recebe carga da região e sangrou algumas vezes nas últimas duas semanas, segundo o sistema de medição da Cogerh.

A barragem, localizada na Bacia do Litoral, ultrapassou o volume máximo de 7,55 milhões de m³ pelo 3º ano seguido, dois meses antes da pré-estação chuvosa. Conforme o Governo estadual, as precipitações do dia 15 de janeiro fizeram com o que o volume do açude subisse 45% em apenas dois dias.

No último sábado (25), pouco mais de uma semana após a primeira sangria, crianças, jovens e adultos chegaram cedo para mergulhar e dar saltos na água.

Homem jogando rede de pesca no Açude Patos, no interior do Ceará
Legenda: Cheia do Açude Patos favorece pescaria
Foto: Davi Rocha

Outro grupo de amigos tirou do porta-malas de um carro caixa de som, lenha, óleo, temperos e até rede de dormir. O objetivo era pescar, assar os peixes - sobretudo tucunaré e curimatã - e “resenhar” até o fim da tarde, por volta de 17h, quando começa a escurecer na região.

A secretária escolar Rose Vasconcelos também aproveitou para levar os dois filhos para tomar banho. “Como sábado e domingo é lotação, gosto de trazer cedo. Os meninos adoram essa folia”, ri a mãe, molhada por respingos a cada novo mergulho.

diariodonordeste.verdesmares.com.br

Cariri Ativo

30.01.2025