Autor Alexia Vieira
Elivando Rodrigues, 23, professor particular de redação de Jaguaribe, no interior do Ceará, foi o único a alcançar a nota mil na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024 no Estado. Ele está entre as 12 pessoas do Brasil que conseguiram a pontuação máxima.
Apesar de seguir as normas gramaticais, o tema e o formato pedido pela prova, Elivando explica que testou escrever o texto de forma menos engessada. “Escrevi como se estivesse debatendo o tema”, afirma.
Para ele, a nota máxima significa mais agora, que só faz a prova para testar os conhecimentos, do que quando era candidato às vagas na universidade. “Quando a gente é aluno tem muito essa fissura pelo mil. Mas hoje em dia enxergo a escrita como forma de se expressar”, diz.
Por isso, ele evita ensinar uma fórmula pronta aos próprios alunos e faz uma crítica aos modelos de curso de redação particulares que oferecem um “caminho mais fácil, mas nem sempre certeiro”.
O professor afirma que ensina a escrita com liberdade, para que o aluno consiga redigir bem tanto a redação do Enem como um trabalho da faculdade. A nota, para Elivando, é uma confirmação de que está escolhendo um bom caminho.
A questão dos modelos pré-prontos foi notada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que orientou os corretores a tirar pontos dos candidatos que utilizaram desse método na redação do Enem 2024.
Citações desconexas e “forçadas” ou modelos de dissertação “memorizados” seriam penalizados, segundo o instituto responsável pela prova.
Professor comemorava notas de alunos quando viu o próprio resultado
Elivando conta que estava comemorando com os alunos as notas tiradas por eles na redação do Enem quando finalmente conseguiu acessar o próprio resultado. A notícia da nota mil foi muito parabenizada pelos estudantes.
“Quando contei, foi uma coisa muito boa. Foi como duas vitórias no mesmo dia”, relata. Os conterrâneos de Jaguaribe também demonstraram entusiasmo pela conquista do professor.
“O pessoal da Cidade tá tendo muito carinho, porque é alguém daqui. Uma cidade do Interior nem sempre tem essa representatividade”, diz.
Apesar da felicidade, Elivando atenta para que alunos não tentem “tirar nota mil o tempo todo”. O erro durante o processo de preparação é essencial para aprender, conforme o professor.
“Essa questão do mil envolve também uma certa sorte. Com outro corretor, o mesmo texto poderia ter nota menor. Mas mesmo com sorte, envolve também muito estudo e trabalho”, diz.
Pandemia forçou mudança de faculdade
Estudante da escola pública até o 9º ano, Elivando ganhou bolsa de estudo para cursar o ensino médio em um colégio particular da cidade. Ele foi aprovado em Letras/Português na Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, mas não conseguiu finalizar o curso na instituição.
A pandemia acabou fazendo com que o professor voltasse à Jaguaribe e, quando chegou o momento de retornar para a Capital e concluir a graduação, ele já não tinha mais condições.
Por meio do Prouni, finalizou o curso em uma faculdade particular a distância. Ele começou a trabalhar com correções de redação ainda durante a graduação, já o curso com aulas particulares e em grupo foi iniciado em 2024.
opovo.com.br
Cariri Ativo
15.01.2025