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Como a Crise do GPS pode nos afetar

Como a Crise do GPS pode nos afetar

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Legenda: Concepção artística do Satélite GPS Block IIIA
Foto: Adaptação/NASA

A possibilidade de os Estados Unidos bloquearem o sinal GPS no Brasil ganhou força após rumores políticos envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que mencionaram essa possibilidade como retaliação geopolítica.


Escrito por
Ednardo Rodriguesproducaodiario@svm.com.br

Sistema de posicionamento Global - GPS, da sigla em inglês, Global Positioning System foi desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos durante a Guerra Fria com finalidade militar. O primeiro satélite foi lançado em 1978 e o sistema ficou operacional em 1995, com 24 satélites ativos.

O uso civil foi liberado após o incidente com o avião sul-coreano no voo KAL 007 em 1983, que entrou em espaço aéreo soviético e foi abatido. Isso evidenciou problemas de navegação aérea, levando o presidente Ronald Reagan dos EUA a abrir o sistema para uso civil em aeronaves comerciais para evitar novas tragédias. 

O GPS, funciona por meio de uma rede de satélites que orbitam a Terra e transmitem sinais de rádio continuamente. Esses sinais contêm informações sobre a posição precisa do satélite e o horário em que o sinal foi emitido, com base em relógios atômicos extremamente precisos.

Quando um receptor GPS — como o de um celular ou carro — capta esses sinais, ele calcula o tempo que cada sinal levou para chegar até ele. Como as ondas de rádio viajam na velocidade da luz, essa diferença de tempo permite calcular a distância entre o receptor e cada satélite.

Com os dados de pelo menos quatro satélites, o receptor consegue determinar sua posição exata na superfície terrestre por meio de um processo chamado trilateração. Esse cálculo considera latitude, longitude, altitude e até o tempo. Neste caso, a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein se torna importante para corrigir a dilatação do tempo e melhorar a precisão do sistema.

Os satélites estão distribuídos em seis planos orbitais, a cerca de 20 mil km de altitude, e cada um completa duas voltas ao redor da Terra por dia. Atualmente, existem 31 satélites operacionais no sistema GPS, garantindo que em qualquer lugar do planeta, pelo menos quatro estejam visíveis ao mesmo tempo.

O custo total do projeto inicial é estimado em 10 bilhões de dólares, e os satélites da geração atual podem custar entre 100 e 300 milhões de dólares cada. Convertendo para reais com o câmbio em torno de R$ 5,40, o investimento soma mais de R$ 54 bilhões. Atualmente, existem 31 satélites operacionais mantidos pela Força Espacial dos Estados Unidos, garantindo cobertura constante no planeta.

Impacto de um desligamento 

O desligamento desse sistema nos impactaria drasticamente. Os serviços de transportes e entrega por aplicativo, uma fonte de renda alternativa para muito brasileiro, não funcionariam mais. Aeronaves se perderiam em florestas como a amazônica. Na agricultura, tecnologias como colheitadeiras automatizadas, drones de pulverização e sistemas de plantio guiado perderiam eficiência ou se tornariam inutilizáveis, comprometendo a produção e a logística rural.

Já no setor de energia, especialmente na distribuição elétrica, o GPS é essencial para sincronizar subestações e garantir o equilíbrio da rede; sem ele, haveria falhas de autenticação, dessincronização e risco de apagões em larga escala.

O sistema oferece dois tipos de serviço: o Standard Positioning Service (SPS), disponível para uso civil, e o Precise Positioning Service (PPS), reservado para fins militares e aliados dos EUA. O GPS não depende de internet ou sinal de celular para funcionar, embora esses recursos possam melhorar a eficiência em alguns dispositivos.

A possibilidade de os Estados Unidos bloquearem o sinal GPS no Brasil ganhou força após rumores políticos envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que mencionaram essa possibilidade como retaliação geopolítica. No entanto, não há posicionamento oficial do governo norte-americano sobre isso.

Tecnicamente, não é viável interromper o sinal em apenas um país, pois os satélites transmitem seus sinais globalmente e de forma passiva. Alterar essa estrutura afetaria múltiplas regiões e inclusive os próprios Estados Unidos.

O máximo que poderia ser feito seria degradar o sinal civil ou realizar interferências locais, como jamming ou spoofing, o que já aconteceu em zonas de conflito na Ucrânia, mas essas ações são muito improváveis no contexto brasileiro. Se não, eles já teriam feito isso na Venezuela, um dos países mais sancionados do mundo.

Alternativas

Existem alternativas ao GPS, como o Galileo da União Europeia, o BeiDou da China e o GLONASS da Rússia. Galileo tem alta precisão e boa compatibilidade com dispositivos modernos, assim como o BeiDou, que tem crescido rapidamente.

O GLONASS, apesar de estar ativo desde 2011, possui baixa precisão fora da Rússia e pouca integração com aparelhos brasileiros, o que limita sua usabilidade por aqui. Há também o sistema indiano NavIC, mas com cobertura restrita ao sul da Ásia.

Brasil, por sua vez, não possui um sistema próprio de navegação por satélite, o que o torna dependente dessas potências estrangeiras. Essa dependência representa riscos estratégicos e reforça a importância de desenvolver o setor aeroespacial.

Investir em tecnologia nacional, cooperação internacional, infraestrutura e formação de profissionais é essencial para garantir soberania tecnológica e proteger áreas críticas da sociedade. Essa crise silenciosa do GPS revela não apenas vulnerabilidades técnicas, mas também uma urgência geopolítica para o Brasil olhar para o espaço com mais ambição e responsabilidade.

diariodonordeste.verdesmares.com.br

Cariri Ativo

24.07.2025