Autor Thays Maria Salles
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de inquérito para apurar transações financeiras envolvendo compra robusta de dólares antes do anúncio das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros.
O ministro acolheu pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), que no sábado, 19, encaminhou ao Supremo uma notícia de fato pedindo a inclusão da movimentação de compra e venda de dólares horas antes do anúncio de Donald Trump na apuração do inquérito contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
O pedido da AGU tem como base reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, exibida na sexta-feira, 18. No documento, o órgão argumenta que o uso ilegal de informação antes do tarifaço pode estar relacionado a ações do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Ademais, à luz dos fatos noticiados, podemos inferir que eles se inserem em contexto no qual os fatos já em apuração neste inquérito estão além dos ilícitos penais já indicados na Pet 14.129 pela Procuradoria-Geral da República, relacionados à obstrução da Justiça, mas também com possíveis ganhos financeiros ilícitos, mediante os mesmos fatos que buscaram impor embaraço à aplicação da lei penal”, diz a AGU.
Na manifestação desta segunda, Moraes diz que "as matérias indicam que as transações de câmbio ocorreram em volume significativo e horas antes do anúncio oficial das novas tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos ao Brasil".
"O que sugere possível utilização de informações privilegiadas (insider trading) por pessoas físicas ou jurídicas, supostamente com acesso prévio e indevido a decisões ou dados econômicos de alto impacto", complementa o ministro relator da ação penal da trama golpista.
Além disso, Moraes menciona postagem do investidor Spencer Hakimian, fundador da Tolou Capital, segundo o qual "alguém havia noticiado (antecipado) sobre as tarifas, rectius, sanções comerciais que seriam impostas ao Brasil" e que "possivelmente 'alguém' havia lucrado entre 25% e 50% em operações atípicas em menos de três horas".
Veja publicação de Spencer, que alertou para movimentações robustas antes do anúncio de Trump
Entenda o caso

A reportagem usada como base para o pedido da AGU aponta indícios de movimentações bilionárias atípicas de compra e venda de dólares, numa aposta contra a moeda brasileira, na tarde do dia 9 de julho.
No mesmo dia, Trump anunciou tarifaço sobre produtos brasileiros e provocou a súbita desvalorização do real.
O presidente dos EUA publicou, às 16h17min, a carta nas redes sociais em que anuncia tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros.
Nesse horário, conforme mostra publicação de Spencer, muita gente começa a comprar dólar e vender real. A moeda americana valorizou, passando dos R$ 5,58.
A situação já era esperada. Afinal, neste caso, vendeu-se a moeda brasileira para se proteger da desvalorização. Contudo, por volta das 13h30mim, alguém comprou uma quantidade "enorme" de dólares, apostando contra o real.
Em entrevista ao Jornal Nacional, Spencer Hakimian menciona que o montante foi de entre US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões. Ele também pontuou que um salto como esse foi causado por alguém que disse: "Eu quero fazer a transação rápido e não quero que ninguém veja”.
Spencer avalia que essa aposta, das 13h30min, pode ter rendido de 40 a 50% do investimento em três horas.
Na prática, alguém comprou de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões às 13h30, a R$ 5,46. Poucos minutos depois do anúncio de Trump, vendeu a R$ 5,60.
"Não é o padrão normal das transações com o real naquele dia. Então, pode ter sido qualquer um que sabia desde o começo. E vamos ter que esperar para ver quem realmente foi”, disse Spencer na ocasião.
Brasil não é caso isolado. Tarifas contra África do Sul, União Europeia, México e o Canadá teriam passado pela mesma situação.
opovo.com.br
Cariri Ativo
22.07.2025