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COP30 e alta da hospedagem: é a economia de mercado, estúpido, não culpa de Belém

COP30 e alta da hospedagem: é a economia de mercado, estúpido, não culpa de Belém

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Legenda: Visão de Belém saindo da Ilha do Combu
Foto: Bruna Damasceno

Escrito por

Bruna Damascenobruna.damasceno@svm.com.br

Belém tem sido alvo de intensas críticas porque os custos de hospedagem dispararam para o período da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30). Essa não é a primeira vez que o evento enfrenta esse tipo de situação.

Segundo o The Times e o Climate Home News, as delegações da COP enfrentaram um aumento de 500% nos custos em 2021 e 2022, na Escócia e no Egito, respectivamente. Em 2024, no Azerbaijão, os preços chegaram a subir até 1.263%, de acordo com o site especializado HospitalityNet.

É sintomático que um evento destinado a discutir a crise climática tenha de enfrentar as consequências do próprio capitalismo. Parafraseando a célebre frase do economista e marqueteiro James Carville, “é a economia, estúpido!”*, podemos dizer que, desta vez, a questão também está na economia, mas especificamente na economia de mercado.

Segundo a lógica do mercado, quando a oferta é limitada e a demanda elevada, os preços tendem a subir. Ora, Belém receberá cerca de 50 mil pessoas para a COP30. Cinquenta mil. Isso exige uma grande infraestrutura.

É uma demanda atípica, mas Belém já mostra há mais de dois séculos ser capaz de acolher bem. O Círio de Nazaré é prova disso. Segundo o Ministério do Turismo, Belém se preparou para receber cerca de 89 mil turistas para o evento religioso em 2024, quase o dobro do público esperado para a conferência climática. Ou seja, a cidade pode, sim, dar conta da COP 30.

Não se trata de um povo despreparado. A forma como Belém tem sido atacada, sob a alegação de ser inferior às capitais do Sudeste, não pode ser chamada de outra coisa senão xenofobia. É preciso refletir, ainda, sobre como toda a estrutura da COP pode e deve ser sustentável.

Isso inclui incentivar práticas como a hospedagem em comunidades tradicionais, fortalecendo a economia local, descentralizando a estada dos visitantes na capital e promovendo a integração da região metropolitana. 

Dessa forma, contribui-se para a injeção de recursos em sete cidades vizinhas: Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Bárbara do Pará, Santa Izabel do Pará, Castanhal e Barcarena.

Não há registro de comunidades tradicionais e ribeirinhas cobrando preços abusivos. Elas, sim, representam o povo de Belém, e não as redes hoteleiras, as grandes plataformas de aluguel de imóveis ou alguns oportunistas.

Já destaquei aqui, nesta coluna, que o Norte e o Nordeste historicamente não têm sido prioridade para muitos. Justamente por isso, é tão simbólico e necessário que a COP30 aconteça em Belém, junto aos povos da floresta, aos ribeirinhos e aos indígenas, na porta de entrada da Amazônia.

Pode-se questionar as consequências econômicas, sociais e ambientais do sistema em que vivemos. Mas, em hipótese alguma, se deve questionar se Belém está preparada para sediar esse evento. A Cidade das Mangueiras está pronta. Falta apenas o mundo enxergar.

Plataforma oficial de hospedagem para COP

A plataforma oficial de hospedagem para a COP30 foi entregue na sexta-feira (1º de julho), com atraso em relação à previsão inicial de fevereiro. 

Ela oferece 2.700 quartos, priorizando delegações dos 196 países participantes, com atenção especial aos Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e Pequenos Estados Insulares (PEIDs).

A política de hospedagem prevê:

  • 15 quartos por delegação para LDCs e PEIDs, com tarifas entre US$ 100 e US$ 200;
  • 10 quartos por delegação para os demais países, com tarifas entre US$ 220 e US$ 600.

No total, são 2.500 quartos individuais com preços fixos. Também haverá residências privadas temporárias e dois cruzeiros atracados no Porto de Outeiro, somando cerca de 3.900 cabines adicionais.

Em entrevista ao portal Amazônia no Ar, Antônio Santiago, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA), afirmou que “a culpa não é da hotelaria” e destacou que os associados da entidade ofereceram 500 apartamentos para a COP30, sendo 250 com tarifas de US$ 100 e os demais entre US$ 200 e US$ 300.

Ceará oferece hospedagem para COP30

Diante da polêmica sobre o custo da hospedagem em Belém, o secretário do Turismo do Ceará, Eduardo Bismarck, fez uma postagem propondo que os visitantes da COP fiquem hospedados em Fortaleza e se desloquem para o evento.

A viagem entre Fortaleza e Belém dura cerca de duas horas. “Tá caro em Belém? Então vem para Fortaleza”, diz a publicação.

Print da postagem
Foto: Reprodução

Nas imagens, aparecem os horários dos voos das companhias aéreas Azul, Gol e Latam para o período de 10 a 21 de novembro. 

*A frase “É a economia, estúpido!” foi criada por James Carville, assessor da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992. Ela destacava que a eleição não se tratava apenas de questões políticas, mas, sobretudo, do que realmente interessa ao bolso dos eleitores.

Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.

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05.08.2025