Quase meio milhão de reais de esquema ligado à máfia sérvia e ao PCC será transferido para a Justiça do Ceará - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
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Quase meio milhão de reais de esquema ligado à máfia sérvia e ao PCC será transferido para a Justiça do Ceará

Quase meio milhão de reais de esquema ligado à máfia sérvia e ao PCC será transferido para a Justiça do Ceará

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Legenda: A soma de quase meio milhão de reais foi apreendida em 2020 com Hugo Agenor dos Santos Dias e a esposa dele, Juliana dos Santos Nunes, no Paraná
Foto: Divulgação/Polícia Federal

No entendimento das autoridades judiciárias, o dinheiro está vinculado a inquéritos sobre o transporte internacional de cocaína por rotas marítimas, envolvendo integrantes do PCC e membros da máfia Sérvia.


Escrito por
Emerson Rodriguesemerson.rodrigues@svm.com.br


Justiça Federal do Ceará determinou que R$ 478.700,00, apreendidos em novembro de 2020 durante a 'Operação Enterprise', no Paraná, sejam transferidos para conta judicial vinculada a ações penais no Ceará contra Hugo Agenor dos Santos Dias, o ‘Alemão’. O homem é acusado de integrar e liderar uma estrutura criminosa associada a facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e à máfia sérvia no tráfico internacional de drogas. 

A decisão, proferida pela 32ª Vara Federal do Ceará, reforça que os valores permanecerão bloqueados até o julgamento final, para garantir o pagamento de multas, indenizações e eventual confisco, além de evitar que o montante retorne ao circuito criminoso. A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Hugor Agenor dos Santos. O espaço segue aberto para manifestações da defesa. 

Apreensão e origem suspeita 

A soma de quase meio milhão de reais foi originalmente apreendida em 2020 com Hugo Agenor dos Santos Dias e a esposa dele, Juliana dos Santos Nunes, no Paraná. O dinheiro estava oculto em um compartimento secreto de um veículo Volkswagen Tiguan. Essa apreensão fazia parte da 'Operação Enterprise', que investigava crimes como tráfico transnacional de drogas e lavagem de dinheiro.  

Agentes da PF durante a 'Operação Enterprise', que investigava crimes como tráfico transnacional de drogas e lavagem de dinheiro. apreenderam dinheiro e sequestraram bens dos investigados
Legenda: A 'Operação Enterprise' investigava crimes como tráfico transnacional de drogas e lavagem de dinheiro.
Foto: Divulgação/Polícia Federal

Apesar de ter sido absolvido no Paraná por lavagem de dinheiro, Hugo Agenor não comprovou a origem lícita do dinheiro. Diante da ausência de interesse do Juízo do Paraná em manter o valor e da persistência de dúvidas sobre a licitude do montante, foi sugerida a remessa dos fundos para o Ceará.  

Isso se deve à existência de novas ações penais que vinculam Hugo Agenor a atividades criminosas no estado, no âmbito da Operação Dontraz e a inquéritos sobre o transporte internacional de cocaína por rotas marítimas, envolvendo integrantes do PCC, além de pessoas oriundas da Sérvia e de Montenegro. 

O elo com a máfia sérvia 

Operação Dontraz foi deflagrada para desvendar a estrutura de uma organização criminosa dedicada ao tráfico internacional de drogas com a utilização de embarcações e à lavagem do dinheiro proveniente dessas atividades. As investigações indicam que esse grupo atua em vários pontos do Brasil desde, no mínimo, 2019.  

 A liderança e o financiamento da organização são atribuídos a dois sérvios: Aleksandar Nesic, o ‘Buda’, ‘Aki’ ou ‘Cara de Sapato’; e Jovan Aracki Djordjevic ‘Bora’ ou ‘Boris’. Nesic é considerado o representante da ‘Máfia dos Balcãs’ no Brasil. 

As investigações apontam que Hugo Agenor era um dos principais articuladores logísticos da ligação entre a máfia sérvia e o PCC no Brasil. Ele seria o responsável por adquirir e equipar embarcações pesqueiras para transportar grandes carregamentos de cocaína com destino à África e, de lá, para a Europa. Conforme as apurações da PF, Hugo mantinha contato direto com Nesic. 

Segundo a Polícia Federal, ele participou diretamente da preparação dos pesqueiros Alcatraz I e Dom Isaac XII, interceptados em alto-mar em 2022 transportando 5,668 toneladas e 1,2 tonelada de cocaína, respectivamente. Os dois barcos partiram de Fortaleza, no Ceará, e tinham como destino o continente africano, ponto estratégico para o escoamento da droga ao mercado europeu. 

Cocaína em barcos 

Em 1º de abril de 2022, o pesqueiro brasileiro Alcatraz I foi interceptado em águas internacionais, perto de Cabo Verde, transportando 5.668 kg de cocaína. Cinco brasileiros e dois montenegrinos foram presos e condenados a 12 anos de prisão em Cabo Verde. Hugo Agenor foi responsável pela compra do barco.  

Barco Dom Isaac XII, apreendido pela Polícia Federal transportando toneladas de cocaína
Legenda: Apreensão do pesqueiro Dom Isaac XII em alto-mar, com 1.200 kg de cocaína
Foto: Divulgação/Polícia Federal

Já em 16 de agosto de 2022, a Polícia Federal e a Marinha Brasileira interceptaram o pesqueiro Dom Isaac XII em alto-mar, a cerca de 320 milhas da costa de Fortaleza, com 1.200 kg de cocaína. Seis tripulantes brasileiros foram presos e condenados por tráfico e associação para o tráfico. Hugo Agenor também teria comprado esta embarcação, embora registrada em nome de terceiros. 

Além desses dois casos, existem forte indícios por parte dos investigadores de que Hugo Agenor e Aleksandar Nesic teriam participação na ação ilegal de tráfico de drogas que envolveu o pesqueiro Palmares I. A embarcação foi apreendida em setembro de 2023 na costa de Pernambuco com 3,6 toneladas de cocaína. Hugo e Nesic foram fotografados vistoriando o barco em janeiro de 2023. 

Lavagem de dinheiro e movimentações milionárias 

A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) no Ceará, no âmbito da ‘Operação Dontraz’, revela que entre 2019 e 2022 o grupo movimentou valores que ultrapassam R$ 12 milhões em atividades de lavagem de dinheiro.  

Os mecanismos incluíam a compra e venda de embarcações, transações imobiliárias e movimentações bancárias fracionadas para evitar detecção por parte das autoridades financeiras e policiais. 

A Operação Dontraz foi deflagrada para desvendar a estrutura de uma organização criminosa dedicada ao tráfico internacional de drogas
Legenda: A Operação Dontraz foi deflagrada para desvendar a estrutura de uma organização criminosa dedicada ao tráfico internacional de drogas com a utilização de embarcações
Foto: Divulgação/Polícia Federal

Interceptações telefônicas e mensagens criptografadas, que foram “quebradas” com autorização da Justiça, mostraram Hugo Agenor orientando subordinados sobre transferências e negociação de bens, além de coordenar a contratação de tripulações e rotas de transporte. 

Decisão judicial 

Na decisão, que autorizou a transferência do valor, o juiz destacou que, embora a absolvição no processo paranaense tenha reconhecido ausência de provas sobre o crime específico de lavagem, isso não impede a “constrição patrimonial no âmbito de outros processos criminais”. A medida teve como base a Lei de Lavagem de Dinheiro (9.613/98) e a Lei de Drogas (11.343/2006). 

O magistrado também ressaltou que Hugo Agenor encontra-se foragido, com mandados de prisão em aberto, e que há risco concreto de dilapidação patrimonial se os valores não permanecerem sob custódia judicial. 

“A manutenção da apreensão do montante é medida necessária para assegurar que valores ilicitamente auferidos não sejam reintegrados à atividade criminosa”, afirmou o magistrado. 

Hugo Agenor é considerado foragido, mas constituiu defesa e o processo foi desmembrado em relação a ele. O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra 25 acusados no total. 

diariodonordeste.verdesmares.com.br

Cariri Ativo

19.08.2025