Brasil estuda quanto investir por aluno para garantir alimentação escolar adequada, diz Pacobahyba - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
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Brasil estuda quanto investir por aluno para garantir alimentação escolar adequada, diz Pacobahyba

Brasil estuda quanto investir por aluno para garantir alimentação escolar adequada, diz Pacobahyba

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Legenda: Fernanda Pacobahyba na 2ª Cúpula Global da Coalizão para a Alimentação Escolar, que aconteceu em Fortaleza
Foto: Angelo Miguel/MEC

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Fernanda Pacobahyba diz que o Governo Federal tem realizado uma pesquisa para tentar ter esse dado de forma precisa.


Escrito por
Thatiany Nascimentothatiany.nascimento@svm.com.br


Macarronada, creme de frango, leite com café, pão com margarina, mingau, vitamina, baião, sucos e frutas são alguns dos inúmeros itens dos cardápios da merenda escolar que alimenta milhares de estudantes nas escolas públicas Brasil afora. Mas, embora o país seja referência de boas práticas com o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), criado em 1955, o cálculo sobre o valor necessário para garantir, de fato, uma alimentação adequada a cada estudante, ainda é desconhecido. 

Essa lacuna, que precisa ser preenchida, foi relembrada pela presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Fernanda Pacobahyba, em entrevista ao Diário do Nordeste, na tarde da última quinta-feira (18), no primeiro dia da 2ª Cúpula Global da Coalizão para a Alimentação Escolar, que aconteceu em Fortaleza nos dias 18 e 19 de setembro. 

No intervalo entre uma reunião bilateral e outra com países integrantes da Coalizão, Fernanda falou ao Diário do Nordeste ressaltando a relevância do Pnae, que chegou aos 70 anos, mas também das questões urgentes como a definição clara dos valores necessários por aluno para garantir alimentação de qualidade em um país continental com distintas culturas alimentares e realidades sociais.  

A titular do FNDE participou do evento organizado pelo Governo Federal por meio do Ministério da Educação (MEC) e do próprio FNDE, em parceria com o Secretariado da Coalizão, presidido pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU). O encontro reúne mais de 90 países. 

No Brasil, no atual modelo, a União repassa verbas, através do FNDE para suplementar a compra da alimentação escolar e cobrir os 200 dias letivos nas escolas públicas brasileiras, conforme o número de estudantes matriculados em cada rede de ensino. Esses valores, em alguns casos, chegam a ser de menos de R$ 1,00 por dia e por aluno. Mas, a situação é tão complexa que, em muitos casos, a verba que é complementar é a única usada por municípios e estados para garantir a compra dos alimentos. 

Fernanda, o Governo Federal está à frente da 2ª Cúpula Global da Coalizão para a Alimentação Escolar e tem realizado debates, reuniões com outros países, dentre outras atividades. Na prática, como esses encontros e trocas podem ajudar o Brasil a melhorar essa dimensão da educação e como esse multilateralismo e bilateralismo tem cooperado para a educação brasileira?

No caso, nós temos uma Coalizão Global que hoje completou 111 países. E por que esse monte de vínculo? De fato, o mundo olha pro Brasil e reconhece no Brasil uma liderança natural por conta do nosso Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). É um programa que não é de hoje, é um programa que tem 70 anos no Brasil e, ao longo desse tempo, ele foi evoluindo muito. 

Logicamente, mudou enormemente, mas é uma coisa que o mundo prestigia a longevidade e a expertise que o nosso programa alcançou. Então, não só as pessoas vêm pra cá pra compreender como é o nosso programa, já que os países têm curiosidade de entender ‘como é que vocês conseguem fazer um programa de alimentação escolar num país continental?’ 

A nossa alimentação aqui no Ceará é uma, no Norte é outra. Você vai pros gaúchos e a outra é totalmente diferente, centro-oeste. Então, assim são muitos Brasis e também a dificuldade de logística de transportar os alimentos, de fazer com que ele chegue às escolas, nós temos o ritmo de 140 mil escolas. Então, é  muita gente. 

Fazer 50 milhões de refeições, ter nutricionista, ter merendeira, é uma cadeia muito boa. Então isso fez com que o Brasil seja co-presidente da Coalizão Global. Praticamente por aclamação. E a gente trouxe esse evento para o Ceará por todos os símbolos que a gente tem aqui no Brasil em relação a isso. 

O ministro Camilo Santana (PT) falou na lei que já foi aprovada e que o presidente Lula deve sancionar em breve que aumenta de 30% para 45% o que deve ser destinado de verba da alimentação escolar para a agricultura familiar. Vocês já têm data para a sanção? 

Estamos ansiosos. O presidente estava numa agenda internacional aí deve estar na no próxima semana mas eu acho que não tarda. E pra gente é uma super vitória. 

E aqui no Ceará, o Governo aprovou o Projeto de Lei 131/2023, que proíbe ultraprocessados na alimentação de escolas públicas e particulares do Ceará e inclusive zera esse tipo de compra até 2027 nas instituições de ensino. Hoje, tem alguma perspectiva que normas do Governo Federal caminhem nesse sentido?

É um excelente horizonte. O Governo Federal já tem um decreto que foi publicado ano passado pelo presidente Lula que é mais ou menos esse desenho do Ceará. Só que o Governo Federal não tem competência para impor, então, assim o que o governador Elmano fez foi sair na dianteira. Do que nós temos conhecimento, é a primeira unidade da federação que torna essa regra imperiosa, obrigatória. 

E o que eu acho que é mais interessante é que toda legislação que a gente tem da alimentação escolar no Brasil, ela é direcionada às escolas públicas. Lógico que 85% dos brasileiros estão em escola pública na educação básica, mas você tem 15% na escola privada e as escolas privadas praticamente estavam sem regulamentação relacionada à alimentação escolar. 

A legislação que o Ceará aprova é uma legislação que vem em boa hora porque a notícia que eu tenho é que ela atinge escolas públicas e privadas. É um super avanço. Porque existem lobbys muito fortes especialmente dos ultraprocessados. 

Fernanda, a senhora também falou sobre a experiência do município de Tauá, sobre o destaque relacionado à presença da agricultura familiar na alimentação escolar. É um exemplo para o Brasil?

Hoje, 100% dos recursos que o Governo Federal coloca em Tauá para alimentação escolar vai para a agricultura familiar. Eles conseguiram, ao longo do tempo, desenvolver algumas cooperativas muito fortes. Eu consegui presenciar lá, fui em algumas cooperativas e lá produz polpa, produz fruta. No meio do sertão. É uma das regiões do Ceará com o menor índice pluviométrico, praticamente não chove e Tauá tem um exemplo estruturado na alimentação escolar. 

Então, foi muito bom conhecer e é muito bom falar desse exemplo de Tauá para o Brasil. Porque se Tauá pode, pra mim qualquer cidade do Brasil pode. 

Outro assunto que a senhora já escreveu e falou sobre é a questão da dependência que os municípios têm desse recurso do Pnae, uma dependência considerada muito alta em diversos casos. O que deveria ser complementar é quase um recurso único. O que é possível fazer para tentar sair dessa situação?

Uma coisa que a gente precisa discutir no Brasil e tem sido uma luta muito forte do ministro Camilo é que a gente precisa aumentar o dinheiro que o Estado brasileiro coloca na educação como um todo, ponto. Isso naturalmente vai fazer com que carreie mais recursos para alimentação escolar. 

Então, hoje quando você pega a educação básica e compara o quanto a gente investe por aluno, compara com os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) o Brasil investe um terço do que os países da OCDE investe. 

A gente estava com a Espanha aqui agora (em reuniões na 2ª Cúpula Global da Coalizão para a Alimentação Escolar), um país integrante e eles investem três vezes mais. Estava pouco com o ministro do Chile, o Chile investe por criança por dia, dois dólares. Dois dólares dá 12 reais. O nosso per capita aqui são centavos, um real e pouco. Então assim, no bolo o estado brasileiro precisa botar mais dinheiro na educação. Isso é um grande desafio. 

Foto: José Leomar

Mas ao mesmo tempo a gente precisa, os prefeitos e os governadores precisam compreender que esse papel não é só do governo federal. A constituição diz que os nossos programas são suplementares, eles precisam também aportar recursos. 

Hoje, no Congresso, está na relatoria da senadora Augusta Brito (PT) um projeto que vai discutir a Política Brasileira da Alimentação Escolar. Hoje a gente tem a política nacional e a gente vai discutir a política brasileira. A política brasileira vai focar no financiamento, para dizer quanto é que custa hoje, já que o Brasil ainda não tem esse dado. 

A gente está em vias de fechar esse dado. Quanto é que custa hoje para alimentar um menino numa escola de tempo integral no Ceará? A gente não tem esse dado estruturado. Porque os sistemas orçamentários da União não conversam com os estados, não conversam com os municípios. Então assim é muito complexo esse número. Mas nós vamos ter. 

Aí vamos imaginar que a conclusão que um aluno custa, sei lá, 10 reais por dia. A União vai entrar com quanto? A nossa proposta é que a União não entre com menos do que 60%. A partir daí, os 40%, o prefeito tem que colocar, o governador tem que colocar. A gente vai entrar nessa discussão nacional. Logicamente vai precisar trazer mais recursos. O Governo Federal vai ser chamado talvez a aportar mais recursos, mas os estados e os municípios precisam compreender a importância. 

E quando o Governo projeta que o país terá essa estimativa do custo da alimentação por aluno?

O projeto está tramitando. Acho que em seis meses a gente consegue ter os primeiros dados para uma discussão mais rigorosa no Congresso. O FNDE está fazendo uma contratação de uma consultoria justamente para ter esse dado. 

Fernanda, e no caso dos reajustes que precisam ser feitos nos valores da Pnae. Depois de muitos anos, esses valores foram reajustados em 2023, mas depois, o Governo não tem tido autorização do Congresso na lei orçamentária, por exemplo, para esse finalidade. Como lidar com o conflito de os preços irem perdendo o valor de compra na ausência dessa atualização?

A inflação vai corroer o poder de compra de qualquer jeito. Então, assim, realmente a gente tem que contar com a sensibilidade do Congresso para aportar mais recursos. Porque não dá para o MEC ofertar o aumento na alimentação escolar tendo que cortar do FUNDEB, tendo que cortar do programa de ônibus, tendo que cortar do salário da educação. A gente espera que os nossos congressistas sejam sensíveis de trazer esse recurso de outros pontos de arrecadação.

Outro ponto que tem sido discutido no Congresso é a questão do SUS da Educação, a criação do Sistema Nacional da Educação. Como que o FNDE entra nesse debate? Tem algum fator específico que o projeto pode contribuir no estabelecimento de instrumentos para viabilizar a alimentação escolar?

Ele vai dizer o que é o papel de cada ente, quem é que entra com o quê e qual é a educação que a gente quer. Então o sistema é fundamental. O projeto da política brasileira de alimentação escolar pode ser um capítulo dentro do Sistema Nacional de Educação. E o FNDE entra em que medida? Porque o FNDE é o órgão que financia as políticas públicas. Então, toda a parte de assistência passa pelo órgão e a gente é contemplado pelo Sistema Nacional. É o financiador da educação brasileira no tocante à União.  

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22.09.2025