Pesquisa nacional aponta que o número de óbitos em intervenções policiais é o maior desde 2019.
Em todo o Brasil, os números apontam que as polícias mataram 4.068 pessoas no mesmo período, sendo 3.066 vítimas negras. Ao menos 11 pessoas foram mortas pelas forças policiais por dia.
Além do Ceará, o levantamento analisou dados do Amazonas, Bahia, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. Os números foram obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI).
Apesar do pico registrado no Ceará, o balanço revelou que houve uma redução de 4,4% nas mortes decorrentes de intervenção policial, no período de seis anos (2019–2024), no somatório final dos nove estados analisados.
Ao Diário do Nordeste, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) informou que as ocorrências decorrentes de intervenção policial no Estado acontecem quando o profissional de segurança, no atendimento de uma ocorrência, precisa "neutralizar uma ameaça iminente, visando proteger as pessoas ao redor e a si próprio".
Mortes por PMs não são intencionais, diz pasta de segurança
Conforma comunicado, a SSPDS esclareceu ainda que as mortes decorrentes de intervenção policial "não são consideradas intencionais, pois, até prova em contrário, configuram excludentes de ilicitude, situações em que a ação ocorre por estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito".
A SSPDS ressaltou que os casos são apurados de forma aprofundada e imparcial pela Polícia Civil e remetidos ao Ministério Público do Ceará (MPCE).
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) também acompanham as investigações.
Confira balanço
| Estados | 2019 | 2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 |
| Amazonas | 88 | 102 | 101 | 99 | 59 | 43 |
| Bahia | 650 | 787 | 1.013 | 1.465 | 1.702 | 1.556 |
| Ceará | 136 | 145 | 125 | 152 | 147 | 189 |
| Maranhão | 72 | 97 | 87 | 92 | 62 | 76 |
| Pará | 563 | 527 | 548 | 631 | 530 | 597 |
| Pernambuco | 74 | 113 | 105 | 91 | 117 | 68 |
| Piauí | 42 | 35 | 34 | 39 | 27 | 24 |
| Rio de Janeiro | 1.814 | 1.245 | 1.356 | 1.330 | 871 | 703 |
| São Paulo | 815 | 814 | 570 | 419 | 510 | 812 |
| Total | 4.254 | 3.865 | 3.939 | 4.318 | 4.025 | 4.068 |
RANKING DOS NOVE ESTADOS
O Ceará ocupa o quarto lugar no balanço feito pela Rede de Observatórios de Segurança. O primeiro estado é a Bahia, seguido por Pará e Rio de Janeiro.
| Estados | População | Número de Mortos | Taxa total por estado |
| Bahia | 14.141.626 | 1556 | 11,0 |
| Pará | 8.120.131 | 597 | 7,4 |
| Rio de Janeiro | 16.055.174 | 703 | 4,4 |
| Ceará | 8.794.957 | 189 | 2,1 |
| São Paulo | 44.411.238 | 812 | 1,8 |
| Maranhão | 6.776.699 | 76 | 1,1 |
| Amazonas | 3.941.613 | 43 | 1,1 |
| Pernambuco | 9.058.931 | 68 | 0,8 |
| Piauí | 3.271.199 | 24 | 0,7 |
71,74% DAS VÍTIMA CEARENSES ERAM PARDAS
Outro fator levantado pela Rede de Observatórios, tendo como base as informações enviadas pelas secretarias de segurança, mostra o número de mortes decorrentes de intervenção policial por raça em números percentuais. O balanço exclui os casos não informados.
Além das 79,3% negras, os dados revelam outras porcentagens de raça/cor das vítimas cearenses. Das 189 pessoas mortas pelas polícias: 3,26% eram amarelas; 17,39% eram brancas; 71,74% eram pardas; 7,61% eram pretas e nenhuma era indígena.
IDADES DAS VÍTIMAS CEARENSES
| Faixa etária | QUANTIDADE DE VÍTIMAS |
| 0 a 11 anos | 0 |
| 12 a 17 anos | 21 |
| 18 a 29 anos | 118 |
| 30 a 39 anos | 32 |
| 40 a 49 anos | 8 |
| 50 a 59 anos | 1 |
| 60 anos ou mais | 2 |
| Não informado | 7 |
| Total geral | 189 |
OUTROS DADOS GERAIS
O levantamento aponta que, no Brasil, negros têm 4,2 vezes mais chances de serem mortos pela polícia do que brancos. Jovens de 18 a 29 anos representaram 57,1% das 4.068 pessoas mortas.
Crianças e adolescentes, de 12 a 17 anos, foram 297 vítimas, além de um caso de 0 a 11 anos. O número representa um aumento de 22,1% em relação a 2023. Cerca 512 registros de mortes não tiveram raça/cor informada, o que corresponde a uma em cada oito mortes.
"No campo da segurança pública, o racismo e a política de segurança se consolidaram como um par de atração magnética. A cada novo dado, o Brasil repete a mesma tragédia: o Estado mata com base em critérios raciais. Não se trata de desvio, mas de um padrão", afirma Jonas Pacheco, coordenador de pesquisa da Rede de Observatórios.
SOBRE A REDE DE OBSERVATÓRIOS NO CEARÁ

No Ceará, a Rede de Observatórios e o Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará, acompanharam 3.567 eventos violentos nos últimos dois anos.
Ao longo de mais de 25 anos, o LEV tem realizado estudos e pesquisas sobre as temáticas da violência, criminalidade, conflitos sociais, direitos humanos, dispositivos de controle e segurança pública.
POSICIONAMENTO DA SSPDS NA ÍNTEGRA
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que os policiais cearenses passam por cursos de formação e capacitação continuada, baseados na matriz curricular da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Segurança Pública (SENASP/MSP). A formação contempla uma abordagem humanizada e técnica, voltada à resolução de conflitos e às questões sociais. Todos os profissionais são treinados para atuar obedecendo aos princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência, conforme as diretrizes da Portaria Interministerial nº 4.226/2010, do Ministério da Justiça e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que orienta o uso progressivo da força pelos agentes de segurança pública no Brasil. Como resultado desses formações, a SSPDS destaca que houve redução de 10%, entre janeiro e setembro de 2025, das mortes decorrentes de intervenção policial, no Ceará. Neste ano, foram registrados 126 procedimentos. No mesmo período, no ano passado, foram 140 registros.
A SSPDS destaca ainda que está em fase de testes uma nova plataforma, com o objetivo de modernizar e agilizar o registro de ocorrências no âmbito da Polícia Civil do estado do Ceará (PCCE). A nova ferramenta substituirá o Sistema de Informações Policiais (SIP3W), possibilitando o cruzamento de dados estratégicos para o andamento de inquéritos policiais e levantamentos realizados pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), além de permitir a análise mais fidedigna do perfil das vítimas de crimes.
A SSPDS reforça que as ocorrências decorrentes de intervenção policial acontecem quando o profissional de segurança, no atendimento de uma ocorrência, precisa neutralizar uma ameaça iminente, visando proteger as pessoas ao redor e a si próprio. A pasta esclarece que as mortes decorrentes de intervenção policial não são consideradas intencionais, pois, até prova em contrário, configuram excludentes de ilicitude, situações em que a ação ocorre por estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito.
Todas essas ocorrências são tratadas com seriedade e transparência, com dados publicados mensalmente no portal da SSPDS. Os casos são apurados de forma aprofundada e imparcial pela Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) e remetidos ao Ministério Público do Ceará (MPCE). A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) também acompanha as investigações.
As ações ostensivas das Forças de Segurança são orientadas por indicadores da Supesp e informações de inteligência. Como resultado dessas ações, a SSPDS destaca que, de janeiro a setembro deste ano, foram retiradas de circulação 5.328 armas de fogo em todo o estado, uma média de cerca de 20 armas apreendidas por dia. O número representa um aumento de 9,2% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram apreendidas 4.877 armas de fogo. Somente em Fortaleza, foram retiradas de circulação 1.256 armas de fogo nos nove primeiros meses deste ano, contra 1.176 no mesmo período de 2024, crescimento de 6,8%. No Interior Norte, as apreensões passaram de 1.468, em 2024, para 1.598 neste ano, representando aumento de 8,9%.
diariodonordeste.verdesmares.com.br
Cariri Ativo
07.11.2025


