Por que Quixeramobim é a 2ª pior cidade em inovação e dinamismo econômico do Brasil? - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
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Por que Quixeramobim é a 2ª pior cidade em inovação e dinamismo econômico do Brasil?

Por que Quixeramobim é a 2ª pior cidade em inovação e dinamismo econômico do Brasil?

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Legenda: Quixeramobim fica localizada no Sertão Central do Ceará, e ainda é sede do Centro Geográfico do Estado.
Foto: Alex Pimentel/Agência Diário.

Município foi escolhido para receber o primeiro porto seco da Transnordestina no Ceará.


Escrito por
Luciano Rodriguesluciano.rodrigues@svm.com.br


A promessa de desenvolvimento para Quixeramobim, município do Sertão Central a cerca de 200 quilômetros (km) de Fortaleza, ainda é um desafio. A cidade tem o 2º pior índice de inovação e dinamismo econômico do País, de acordo com dados do Centro de Liderança Pública (CLP), que desenvolve estudos sobre o setor público.

Quixeramobim obteve nota 6,79, a segunda mais baixa do Brasil, atrás apenas do município maranhense de Pinheiro (5,48). É importante ponderar, contudo, que os resultados divulgados este ano são referentes a múltiplas análises de documentos entre os anos de 2021 e 2024.

Em julho último, foram iniciadas as obras do primeiro porto seco do Estado, em Quixeramobim, que receberá a movimentação de cargas da Ferrovia Transnordestina, além de um complexo industrial, com promessa de dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) do município em 10 anos.

Entenda o indicador e o resultado 

De acordo com o estudo, o índice de inovação e dinamismo econômico baseia-se na visão da literatura acadêmica de que a “inovação é fundamental para o crescimento e desenvolvimento econômico no longo prazo, uma vez que permite ganhos de produtividade, isto é, a produção de mais, novos e melhores produtos e serviços pelas organizações sem que seja necessário aumentar proporcionalmente os insumos necessários para a produção”.


O indicador "inovação e dinamismo econômico" está inserido dentro da dimensão economia, um dos três que compõem a nota do CLP, que ainda conta com instituições e sociedade.

O tombo em inovação e dinamismo econômico foi de 15 posições, caindo de 402º para 417º, penúltimo do País. Todos os indicadores tiveram quedas, porém mais suaves que o indicador "crescimento da renda média do trabalho formal" em Quixeramobim.

As retrações nos indicadores empregos no setor criativo, crédito per capita, crescimento do PIB per capita, complexidade econômica e empregos no setor formal foram menores. Quixeramobim tem a 3ª pior renda média do trabalho formal do País, e recursos para pesquisa e desenvolvimento científico foi o único indicador a registrar nota zero.

 

Por que a nota de Quixeramobim foi tão baixa no Brasil?

Para efeitos comparativos, a maior nota do indicador foi de Florianópolis (SC), que alcançou 53,69. São Paulo (SP) aparece na sequência, com 52,62. O melhor município cearense foi Eusébio, com 38,98, ocupando a 14ª posição nacional. Fortaleza figura em 47º lugar, atingindo 31,57.

Wesley Barcelos, analista de Competitividade do CLP, avalia o baixo desempenho do município cearense do Sertão Central.

"Os resultados sugerem dificuldades específicas na performance dos indicadores, com possíveis efeitos colaterais. Quixeramobim avançou mais de 100 posições em 'Formalidade no mercado de trabalho' e mais de 360 em 'Crescimento dos empregos formais'. Esse resultado indica que mais pessoas estão acessando o mercado formal de trabalho, apesar do alto percentual da população em vulnerabilidade", avalia.

Foto que contém vista aérea da Igreja Matriz de Quixeramobim.
Legenda: Quixeramobim fica localizada no Sertão Central do Ceará, e ainda é sede do Centro Geográfico do Estado.
Foto: Alex Pimentel/Agência Diário.

O professor João Mário de França, do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador do FGV Ibre, aponta que faltam ao município atividades produtivas relevantes do ponto de vista do dinamismo econômico.

Isso acaba ocasionando empregos que exigem pouca qualificação que, por sua vez, implica em baixos salários e produtividade. No resultado do CLP, isso reflete no indicador da pequena renda média oriunda do trabalho formal, com reduzido crescimento ao longo do tempo".
João Mário de França
Professor do Caen/UFC e pesquisador do FGV Ibre

“Além disso, uma economia voltada para setores tradicionais tende a ter muito pouco incentivo para o surgimento de inovações, que dependem de algum nível de capital humano, muitas vezes com pouco interesse em permanecer no município, bem como de um ambiente econômico dinâmico e competitivo em termos de negócios”, completa.

Apesar do baixo indicador, Quixeramobim cresce em pilares, dimensões e no ranking

A situação crítica em inovação e dinamismo econômico é algo isolado, conforme os dados da própria colocação de Quixeramobim no ranking do CLP. O município deu um salto de 56 posições e agora subiu para 271º lugar nacionalmente.

Quando é considerado o universo completo da dimensão "economia", Quixeramobim teve um crescimento de 78 colocações, ocupando agora a 315ª posição. Dos quatro pilares, com exceção de inovação e dinamismo econômico, todos tiveram altas bem expressivas:

  • Inserção econômica: município é o 9º colocado no País, 364 posições a mais do que no ano passado;
  • Capital humano: 27 posições ganhas, ocupando agora o 216º lugar;
  • Telecomunicações: subiu 155 posições e agora é o 154º.

Conforme Wesley Barcelos, a inserção econômica "avalia vulnerabilidade socioeconômica e o nível de inclusão produtiva no mercado de trabalho formal". Mesmo com queda de 20 posições no indicador "população vulnerável", o município saltou 115 colocações em "Formalidade no mercado de trabalho".

"Mesmo neste cenário (de queda na inovação e no dinamismo econômico), ainda há indicadores dentro do pilar onde o município consegue estar entre os 120 melhores, como o indicador de crescimento do PIB per capita", observa.

Quais os outros destaques do ranking?

Diferente de Sobral, que ocupa a liderança nacional em educação pública, mas fica em último em segurançaQuixeramobim tem resultados menos discrepantes, embora também irregulares.

"A importância de estar em uma boa posição no ranking revela, de maneira geral, uma boa qualidade dos serviços públicos entregues, resultando em melhor bem-estar para sua população. Essa sinalização de boa competitividade propicia uma melhor perspectiva em atração de investimentos e trabalhadores mais qualificados, induzindo uma melhoria no desenvolvimento social e econômico", reforça João Mário de França.

O analista de competitividade do CLP destaca o crescimento do indicador "qualificação dos trabalhadores em emprego formal" no município, que demonstra que Quixeramobim "tem conseguido absorver mão de obra mais qualificada".

O mesmo vale para as taxas brutas de matrícula no ensino superior e no ensino técnico e profissionalizante: "Esses resultados sugerem que as políticas públicas vêm conseguindo ser ampliadas", acrescenta Wesley Barcelos.

Foto que contém canteiro de obras com trator e cone isolando área.
Legenda: Obras da Ferrovia Transnordestina em Quixeramobim indicam que ferrovia deve mudar realidade econômica do município.
Foto: Davi Rocha/Diário do Nordeste

Mesmo com certos avanços, o especialista do CLP garante que é preciso serem ampliadas as políticas públicas para que os jovens ingressem e permaneçam no ensino técnico e profissionalizante, um dos desafios destrinchados pelo levantamento.

"O ranking é um instrumento de avaliação da população, permitindo analisar a administração municipal de forma mais objetiva. É na cidade que a vida acontece, e é nela que os resultados das políticas públicas são sentidos. A conexão entre sociedade e setor público é essencial para fortalecer a gestão e orientar políticas mais assertivas", diz.

Transnordestina pode mudar a dinâmica da região

A ferrovia que entrecortará o Ceará de sul a norte segue em construção, com conclusão do trajeto cearense prevista para 2027. Um dos trechos passa justamente por Quixeramobim, cidade que, em julho, recebeu o anúncio de um complexo industrial e portuário às margens da linha férrea.

O porto seco, o primeiro da história do Ceará e o segundo do Nordeste, terá atuação similar à do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), na Grande Fortaleza. João Mário de França acredita que o empreendimento será um importante gerador de novos empregos diretos, com remuneração maior e mão de obra qualificada. 

"A chegada da Transnordestina e do porto seco traz a possibilidade da geração de novos empregos diretos, de melhor qualidade e, portanto, com maior remuneração, aumentando o rendimento médio do trabalho com o potencial de novas empresas se instalarem na região em diferentes setores", orienta.

Foto que contém placa do Porto Seco do Sertão Central, em Quixeramobim.
Legenda: Porto Seco do Sertão Central, em Quixeramobim, vai abrigar indústrias de grande porte no município.
Foto: Davi Rocha/Diário do Nordeste.

Outro ponto destacado pelo professor da UFC é a promessa, por parte dos gestores municipais de Quixeramobim, de que o PIB do local dobre em dez anos com a atuação do complexo industrial e portuário.

Ele acrescenta, contudo, que é preciso que a arrecadação seja utilizada em setores estratégicos para um melhor equilíbrio de pilares e indicadores ressaltados pelo CLP.

A gestão municipal deve aproveitar esse potencial de aumento de arrecadação para investimentos em áreas como educação, saúde, saneamento, segurança, infraestrutura e logística, que possibilitarão uma melhor oferta de serviços públicos disponíveis para a população, bem como um aumento da capacidade de atração de outros negócios".
João Mário de França
Professor de Pós-Graduação da UFC e Pesquisador do FGV Ibre

A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Quixeramobim para repercutir os resultados do ranking do CLP, mas não obteve retorno até o fechamento deste material.

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Cariri Ativo

27.11.2025