Estado tem crescido participação no setor ano após ano
Esses locais foram responsáveis no ano passado por US$ 17,26 milhões, o que supera os R$ 100 milhões na conversão atual. Os dados são da plataforma Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) a partir de relatório elaborado pelo Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
O principal município exportador de rochas ornamentais do território cearense é Uruoca, no Litoral Norte. Em 2024, o local exportou 31,5% de todos os produtos do Estado, sendo mais de 16 mil toneladas desses materiais, com valor total acima dos US$ 8,4 milhões.
Dentre os principais destinos das rochas ornamentais oriundas do Ceará está a Europa. O continente tem três dos cinco países que mais compram esses produtos do Estado, sendo a Itália o principal mercado, nação responsável por receber 57% dos materiais cearenses.
O que são rochas ornamentais?
Segundo definição do Serviço Geológico do Brasil (SGB), órgão vinculado ao Governo Federal, esse tipo de pedra inclui rochas e mineirais utilizados por arquitetos e designers de interiores, seja em fachadas de edifícios e casas ou ainda em pisos e revestimentos, além de produtos decorativos.
"São consideradas rochas naturais, de composição mineralógica e química diversa, que ocorrem em áreas passíveis de serem mineradas (legal e tecnologicamente), que apresentem padrões (desenhos) considerados esteticamente agradáveis ao consumidor. Para serem comercializadas, devem atender a alguns requisitos de resistência físico-mecânica determinados pelas normas técnicas", destaca Irani Clezar Mattos, professora do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Essas rochas são extraídas pela atividade mineradora, geralmente em formato de grandes blocos que posteriormente serão beneficiados, seja em forma de lapidação ou outro tipo de melhoria, justamente o que agrega valor nos materiais. No dia a dia, as mais comuns são o granito, o mármore e o quartzito, cada uma delas indicada para os mais diferentes tipos de usos.
Atualmente, o Ceará é o terceiro maior exportador do Brasil de rochas ornamentais, conforme dados do Comex Stat. O Estado fica atrás somente de Minas Gerais e do Espírito Santo, líder nacional e responsável por 82% do valor adquirido com exportações desse tipo de material no País.
No Estado, a rocha mais exportada é o quartzito. A Comex Stat indica que o material, em blocos ou placas de forma quadrada ou retangular, representou 63% de tudo o que foi comercializado com o exterior em 2024 desse tipo de produto.
"A rocha que hoje é a da moda se chama quartzito. Por norma, é uma rocha que tenha pelo menos 95% de quartzo em sua composição, mineral à base de sílica (SiO2) e é um mineral muito resistente à abrasão", explica Carlos Rubens, presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran).
"Se você pega um mármore e coloca ou em uma mesa, ou em um tampo de cozinha, por exemplo, pega o bico de uma faca e risca ele, vai ficar um buraquinho. No quartzito, isso não vai acontecer, a lâmina não consegue serrar. Tem que ser uma coisa mais dura para riscá-lo. O que risca um quartzo é um diamante, por exemplo", completa.
Ceará tem destaque por tipo especial de quartzito
Carlos Rubens explica que a crosta terrestre, camada mais externa do planeta Terra e onde se localiza o solo, é onde se encontra esse tipo de rocha, e está presente em todo o mundo. O que diferencia o Ceará de demais locais é o quartzito Taj Mahal, encontrado somente no Estado.
O Ceará é uma das principais fronteiras do mundo na produção de quartzitos, que são rochas ricas em sílica. Em mineração, as coisas estão onde estão, e não onde gostaríamos que estivesse. Todo lugar do mundo tem quartzito, agora especificamente no Ceará tem uma rocha que temos muitas reservas, estamos com condições de extrair e é vendido tudo o que se extrai. É o quartzito Taj Mahal, de cor bege, neutra para a construção e desejada mundialmente pelos profissionais de arquitetura e decoração.
O presidente do Simagran chama o material de 'Louis Vuitton' dos quartzitos pelo alto valor agregado e pelos usos em pisos e revestimentos de alto padrão ao redor do mundo.
![Cozinha de quartzito](https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/image/contentid/policy:1.3615519:1738956845/Cozinha-de-quartzito.jpeg?f=default&$p$f=3ef3aa5)
Sobre o alto valor agregado, Carlos Rubens acredita que existem rochas ornamentais com preços "para todos os gostos", inclusive com pisos de porcelanato, material sintético, mais caros do que materiais à base de mármores, granitos e quartzitos. Para ele, o Ceará poderia se beneficiar mais do assunto caso houvesse indústrias beneficiadoras, concentradas hoje no País principalmente no Espírito Santo.
"O Ceará é um exportador de commodity, ou seja, temos poucas indústrias beneficiadoras. Exportam-se os blocos, do jeito que saem da natureza, ou chapas serradas. A nossa agregação de valor local é muito baixa. Quem agrega valor é quem compra os nossos blocos é o exterior", expõe.
Benefícios para o setor
Um dos principais fatores que evidenciam a importância das rochas ornamentais é a longa durabilidade. A professora de Geologia da UFC relembra que muitas construções de antigas civilizações ao redor do mundo continuam sem grandes alterações com o passar dos anos.
"Um granito se cristaliza a, pelo menos, 700 °C. A resistência à abrasão do quartzo é uma das mais altas, de 7 na escala de dureza Mohs, que vai de 1 a 10. Muitas construções do Império Romano ainda se encontram de pé em Roma e em vários outros lugares, como as casas dos Celtas, em Braga (Portugal). Todas usavam as rochas como materiais de sustentação", frisa Irani.
A especialista ressalta o quartzito Taj Mahal bem como outras rochas, como o granito Branco Ceará e a Pedra Cariri, esta explorada quase que artesanalmente, sem muitos processos industriais.
![Rochas ornamentais quartzito](https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/image/contentid/policy:1.3615510:1738956495/Rochas-ornamentais-quartzito.png?f=default&$p$f=8ecb7b9)
No que diz respeito especificamente à exploração de rochas ornamentais no Estado, Irani Clezar Mattos defende que a mineração das pedras siga focada em extrair os minerais, com custo ambiental minimizado pela pontualidade da atividade.
"Quanto ao seu impacto ambiental negativo, a exploração de rochas ocorre de forma muito localizada e pontual, desde que a empresa atenda integralmente todos os requisitos legais quando da obtenção das licenças ambientais e de Operação determinados e deve ser fiscalizada. A exploração de rochas ornamentais é de grande importância na medida em que gera empregos no interior do Estado, desenvolve a região, movimentando os comércios locais e traz retornos fiscais para o Estado", esclarece.