Duas novas espécies de morcegos são descobertas no Ceará - Cariri Ativo - A Notícia Com Credibilidade e Imparcialidade
Anúncio

Duas novas espécies de morcegos são descobertas no Ceará

Duas novas espécies de morcegos são descobertas no Ceará

Compartilhar isso

 

Legenda: Ao lado esquerdo, o morcego-borboleta-avermelhado (Myotis ruber), capturado no Sítio Nova Olinda, em Guaramiranga. À direita, o Molossus pretiosus, avistado no campus experimental da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em Pacoti
Foto: Roberto Leonan Morim Novaes e Nádia Cavalcante

Mamíferos foram encontrados em Pacoti e Guaramiranga e se somam às 53 espécies já existentes no Estado.


Escrito por
Clarice Nascimentoclarice.nascimento@svm.com.br

Pesquisadores do Museu de História Natural do Ceará (MHNCE) encontraram duas espécies de morcegos que nunca haviam sido registradas no Estado. Os mamíferos foram descobertos em Guaramiranga e Pacoti, na Serra de Baturité. Com esse achado inédito, a lista de espécies de morcegos no Ceará aumenta para 55. 

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a bióloga Nádia Cavalcante explica que as espécies encontradas são denominadas Myotis ruber, da família Vespertilionidae, e Molossus pretiosus, da família Molossidae. Ambos são morcegos insetívoros, ou seja, se alimentam de insetos. 

Foram utilizadas redes de neblina para realizar a captura dos morcegos. Feitas de náilon ou poliéster, elas se camuflam no habitat e ajudam na apreensão dos animais.

“Nós colocamos essas redes em trilhas ou locais propícios por volta de quatro horas da tarde e ficava até meia-noite monitorando. A cada 15 minutos, nós fazíamos a vistoria, tirava os animais, colocava no saquinho de pano e depois ia fazer a triagem”, afirma. 

As espécies encontradas costumam voar alto, o que dificulta a captura. Para Nádia, a descoberta foi uma ‘sorte’ e, provavelmente, os animais estavam saindo dos abrigos para se alimentarem. 

O morcego-borboleta-avermelhado (Myotis ruber) foi capturado no Sítio Nova Olinda, em Guaramiranga. Nádia explica que ele tem uma coloração alaranjada, o que o diferencia do comum do Ceará que são morcegos cinzas ou pretos. 

Os pesquisadores também descobriram que a Myotis ruber foi avaliada como Quase Ameaçada pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Essa classificação internacional considera que a espécie já enfrenta redução populacional e perda de habitat, correndo ‘risco significativo de desaparecer’.

O segundo morcego, da espécie Molossus pretiosus, foi avistado caído e morto no prédio do Museu, no campus experimental da Universidade Estadual do Ceará (Uece), em Pacoti. Ao contrário da Myotis ruber, possui baixo risco de extinção pela IUCN devido à capacidade de se adaptar às mudanças de habitats. 

Ambas espécies costumam viver em ambientes úmidos e florestados, e estão geralmente ligadas a áreas com resquício da Mata Atlântica. A Serra de Baturité é um dos remanescentes de uma conexão passada entre o bioma de floresta tropical e o bioma Amazônia. 

A foto mostra uma equipe de 12 pessoas, incluindo homens e mulheres. Quase todos usam máscaras. Eles estão em pé em um caminho pavimentado, com um telhado de telhas ao fundo. À direita, um carro prateado está estacionado, e à esquerda há árvores e folhagens. O ambiente parece ser um parque ou área verde.
Legenda: Equipe do Museu de Historia Natural do Ceará (MHNCE), Fundação Oswaldo Cruz e Laboratório de conservação de vertebrados terrestres (Converte)

O estudo científico foi coordenado pelo pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro da direção da Plataforma Internacional para Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde (PICTIS), Dr. José Luiz Passos Cordeiro. A equipe ainda conta:

  • Dra. Marcione Oliveira, bióloga especialista em morcegos do Museu Nacional;
  • Dr. Aldo Caccavo, biólogo, pesquisador do Museu Nacional e, na época, curador da coleção de mamíferos do MHNCE;
  • Dr. Giovanny Mazzarotto, médico veterinário da Fiocruz Ceará e do Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz);
  • Dr. Hugo Fernandes Ferreira, professor da UECE e coordenador do laboratório de conversação de vertebrados terrestres. 

CORONAVÍRUS E O PAPEL DO MORCEGO NO ECOSSISTEMA

A descoberta das novas espécies é resultado de uma longa série de pesquisas realizadas pela Fiocruz e estudiosos do Museu de História Natural do Ceará (MHNCE), iniciada em 2020. Na época, os pesquisadores investigavam a presença do vírus SARS-Cov-2, causador da Covid-19, em animais silvestres.

Os cientistas buscavam monitorar se o vírus que causou a pandemia também circula em animais como morcegos e roedores no Ceará. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), a contaminação desses mamíferos e a transmissão para os seres humanos é considerada a “possível ou provável” origem de contágio da pandemia de Covid. 

Embora possam abrigar vetores, assim como outros animais, os morcegos desempenham papéis importantes nos ecossistemas e não devem ser caçados nem mortos. Por exemplo, as espécies encontradas pelos pesquisadores no Ceará consomem insetos pela noite, o que ajuda a controlar pragas agrícolas e vetores de doenças de forma natural, sem uso de veneno. Além disso, estimula o equilíbrio dos ecossistemas e a proteção da agricultura. 

Por sua vez, os morcegos frugívoros — que consomem frutos de plantas — dispersam sementes que ajudam na reprodução e regeneração de florestas e áreas degradadas. Já os nectarívoros carregam pólen de flor em flor enquanto se alimentam de néctar, contribuindo para a polinização das plantas.

Assim, caso a população encontre algum morcego em casa, a bióloga Nádia orienta que não se deve tocar ou retirá-lo sem proteção. “A gente sempre pede que deixe o bicho seguro de alguma forma, com uma caixa ou depósito em cima, e que a população entre em contato com pessoas especializadas que possam resgatar”, explica.

Em Fortaleza, a população pode acionar a Unidade de Vigilância de Zoonoses - UVZ pelo número (85) 98938-7677.

diariodonordeste.verdesmares.com.br

Cariri Ativo

23.07.2025