A declaração foi dada pelo presidente brasileiro para a TV Record em entrevista sobre tarifas de 50% impostas por Donald Trump aos produtos brasileiros.
O presidente Lula disse, nesta quinta-feira (10), que se o presidente Donald Trump tivesse incitado o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 no Brasil, ele estaria sendo processado e correndo o risco de ser preso como Bolsonaro. As declarações foram dadas durante uma entrevista à jornalista Cristina Lemos, da TV Record.
“Eles têm que respeitar o nosso Judiciário como eu respeito o deles. Se o que Trump fez no Capitólio tivesse acontecido aqui, ele estaria sendo processado como o Bolsonaro e poderia até ser preso. Aqui, o Judiciário é autônomo, sobretudo o STF.”
Na entrevista, o presidente também criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, que atualmente reside nos Estados Unidos e supostamente atuou para incentivar Trump a aplicar as tarifas ao Brasil, como forma de colocar o processo da tentativa de golpe de estado, que o ex-presidente é réu, dentro das discussões.
“O ex-presidente deveria assumir sua responsabilidade. Foi o filho dele quem foi lá influenciar Trump, que agora tenta interferir em um processo que está na Suprema Corte brasileira. E, aqui, decisão judicial se cumpre.”
Relação abalada
As falas do líder brasileiro vem após a escalada das tensões entre os dois países, causadas pelo anúncio unilateral do governo norte-americano de taxar em 50% os produtos brasileiros, segundo informado por carta enviada pelo republicano estadunidense na quarta-feira (10).
“Eu achei que a carta do presidente Trump era um material apócrifo [falso]. Não é costume você mandar correspondência para outro presidente pelo site da presidência da República. Não se pode receber uma carta que nem verdadeira é”, disse Lula, citando as questões comerciais levantadas por Trump.
“Ele alega que os Estados Unidos têm déficit com o Brasil, mas isso não é verdade. Em 2023, exportamos US$ 40 bilhões e importamos US$ 47 bilhões dos EUA. Tivemos um déficit de US$ 7 bilhões”, disse Lula na entrevista, chamando a carta de “absurda”.
Segundo o presidente, o Brasil é um país que não tem problemas com qualquer outra nação do mundo, e que “aqui tudo se resolve numa conversa”. “A primeira coisa que o povo brasileiro precisa saber é que quem tem que respeitar o Brasil e gostar do Brasil são os brasileiros. E, ao mesmo tempo, exigir que os outros nos respeitem”, afirmou.
O presidente também afirmou que se deu bem com todos os presidentes americanos, e que Trump “desconhece” a relação diplomática entre os dois países. “Se ele conhecesse um pouco do Brasil, teria mais respeito. O Brasil tem 201 anos de relação diplomática com os Estados Unidos, uma relação virtuosa, de benefício mútuo”.
Negociações sobre as tarifas e Big Techs
Segundo o presidente, a Lei da Reciprocidade Econômica será acionada se as negociações sobre o tarifaço fracassarem. “Se não tiver negociação, a lei da reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50 de nós, nós vamos cobrar 50 deles”, declarou.
“Temos vários caminhos. Podemos recorrer à OMC [Organização Mundial do Comércio], propor investigações internacionais, cobrar explicações. Mas o principal é a Lei da Reciprocidade, aprovada no Congresso”, enumerou Lula sobre os possíveis canais diplomáticos a serem adotados.
Sobre as Big Techs, Lula reforçou que tanto empresas nacionais como estrangeiras estão sujeitas a legislação nacional. “Quem estabelece as regras no Brasil é o Congresso Nacional e o Judiciário. Nenhuma empresa estrangeira pode vir aqui e ignorar nossas leis. Trump precisa entender isso.”
Frentes de atuação
Mais cedo, durante uma nova reunião com equipes da econômica e do Itamaraty, ficou decidido que o governo adotará três frentes de atuação diante das medidas anunciadas por Donald Trump.
A primeira será organizar reuniões com os setores da economia brasileira que serão os mais afetados pelas tarifas, no discurso de defesa da indústria nacional e proteger os empregos gerados por esses setores.
Será mantida também a linha de diálogo com os representantes americanos e o setor diplomático brasileiro para que se chegue a um consenso antes de 1º de agosto. Foram escalados os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Itamaraty), além do vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é ministro da Indústria e Comércio Exterior, para negociar com o governo Trump.
Já como estratégia política, Lula e sua base irão explorar o episódio, jogando a culpa das taxas de 50% no colo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e em seus aliados. Ministros e outras autoridades passaram a compartilhar mensagens nesse sentido já na noite de quarta-feira (10).
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Cariri Ativo
11.07.2025